Como a dor de um pai pode revolucionar a medicina no mundo

21/12/2016 às 05:2913 min de leitura

Jacson Fressatto perdeu a filha Laura aos 18 dias de vida. Recém-nascida, Laura foi vítima de septicemia, uma infecção silenciosa que tira a vida de milhares de pessoas em todo o mundo diariamente. O luto, que se transformou em uma caça por culpados, acabou revelando um trabalho, talvez uma missão para Jacson. Isso porque a sepse é ardilosa e, exatamente por causa da pequena Laura e de uma força paterna aliada ao conhecimento analítico, agora a doença está começando a perder dentro de seu próprio jogo.

"Durante nove meses eu trabalhei como voluntário em vários hospitais, principalmente naquele onde a Laurinha foi tratada e acabou falecendo. O meu objetivo era caçar quem foi o culpado. Desde o primeiro dia até os nove meses, eu queria saber quem tinha sido o culpado. Eu usei o argumento de que queria ajudar, que estava como voluntário, eu fiz de tudo, cara". Este trecho, retirado da entrevista logo abaixo, resume uma história comum em milhares de famílias no mundo — muito mais do que você imagina. Aqui, a diferença foi o nascimento do Robô Laura.

A septicemia atinge 2,5 milhões de brasileiros por ano

O Robô Laura, desenvolvido pelo analista de sistemas Jacson Fressatto, 37 anos, utiliza tecnologia cognitiva. Ou seja, o software tem a capacidade de aprender analisando, entendendo e até conversando com áreas operacionais de, por exemplo, hospitais. A ideia é que a memória de Laurinha, agora parte da alma por trás do robô, possa ajudar os médicos na prevenção da sepse e diminuir o número de mortes causadas por essa doença violenta.

Hoje, a septicemia atinge 2,5 milhões de brasileiros por ano. Dentro dessa conta, cerca de 250 mil acabam morrendo. No mundo, ela mata uma pessoa a cada 1 minuto e meio. A sepse mata mais que câncer e você provavelmente nunca ouviu essa palavra — não é sua culpa, apenas 2 a cada 10 pessoas conhecem essa doença, e você ainda vai entender os motivos.

Agora com a Laura Networks, Jacson Fressatto está tentando levar o Robô Laura para os hospitais interessados. Para os hospitais filantrópicos brasileiros, Fressato até pretende doar a tecnologia. De acordo com o site oficial da empresa, o Robô Laura tem a capacidade de salvar mais de 12 mil vidas por ano no Brasil, reduzindo em 5% o índice de mortes. O objetivo é poupar tempo, recursos e vidas — tecnicamente, Laura é o primeiro robô cognitivo de gestão de risco.

O TecMundo conversou com Jacson Fressatto no começo de dezembro, e você vai acompanhar, após aprender mais sobre a septicemia, como foi o nosso bate-papo.

Marcelino Costa (CEO e cofundador) e Jacson Fressatto (CPO e cofundador), da Laura Networks

Saiba, de uma vez por todas, o que é a sepse

Antes de entender os motivos e a ponta final, é preciso se conscientizar. A septicemia, mais conhecida apenas como sepse, é categorizada como uma infecção geral grave do organismo. Causada por germes patogênicos, ela causa uma inflamação sistêmica que é potencialmente fatal, principalmente quando atinge o grau máximo de "choque séptico".

Talvez você nunca tenha ouvido falar na sepse. Talvez você não tenha a mínima noção do quão silenciosa e perigosa ela é. Isso porque a causa da morte nunca acaba sendo relacionada com ela. Por exemplo, se alguém morre de sepse por pneumonia, a causa é classificada como pneumonia. Se morre de sepse após ter sido gravemente queimado, a causa indica "complicações pós-queimaduras". Então, você precisa ter uma noção do tamanho disso.

De acordo com o Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS), o quadro, que também é conhecido como disfunção ou falência de múltiplos órgãos, é o responsável por 25% da ocupação de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no Brasil, um número extremamente alto que acaba exigindo custos igualmente altos em tratamento: só em 2003, foram gastos R$ 17,3 bilhões para tratar 398 mil casos registrados de septicemia.

Em resposta a uma simples infecção, o organismo acaba lançando mão de mecanismos de defesa que acabam por também prejudicá-lo

A sepse é silenciosa e mata. O ILAS também afirma que a septicemia é a principal causa de morte nas UTIs, superando largamente o infarto do miocárdio e o câncer. A taxa de mortalidade da infecção é de 65% dos casos no Brasil, um disparate quando comparado à média global, que atinge um nível máximo de 40%. A sepse, no Brasil, mata mais que em países como a Índia e a Argentina.

O Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, explica como a sepse chega ao organismo: "O organismo humano está em constante alerta e luta contra agentes externos que podem prejudicá-lo, sejam eles físicos, como calor e frio, ou biológicos, como bactérias, vírus, fungos e toxinas. Toda agressão ao organismo provoca uma reação de defesa, e essa reação, na maioria das vezes, se limita ao combate desses agentes, sem danos associados. Porém, em algumas situações, seja pela gravidade e agressividade do agente causador (especialmente alguns tipos de bactérias e vírus) ou pela magnitude da resposta do organismo, esse combate pode acabar em danos secundários à saúde do indivíduo. Ou seja, em resposta a uma simples infecção, o organismo acaba lançando mão de mecanismos de defesa que acabam por também prejudicá-lo".

Vale notar que o grupo de risco é o seguinte: pessoas com diabetes, infecção pelo HIV, tratados previamente com quimioterapia, usuários de corticosteroides, pessoas que apresentam qualquer forma de imunossupressão. Nesse grupo, podemos incluir recém-nascidos prematuros e idosos, já que estão mais suscetíveis a infecções mais graves. Também é preciso deixar claro que todas as pessoas podem ter sepse, até as mais saudáveis. Aqui, falamos sobre grupos de risco.

Infecções mais comuns que evoluem para sepse

  • Intra-abdominais
  • Trato urinário
  • Pulmões
  • Endocardite
  • Meningite
  • Tecidos/partes moles
  • Artrite
  • Feridas cirúrgicas

Agentes que podem causar a sepse

  • Bactérias (gram-positivos e gram-negativas)
  • Fungos
  • Vírus

Equipe conhecendo o robô Laura

Atingindo o organismo

O TecMundo também conversou com o Dr. Celso Guerreiro Scott Savioli para entender um pouco mais sobre a septicemia age no organismo humano.

"Quando falamos em sepse, você vai olhar a definição, ela diz 'infecção generalizada'. Isso passa uma ideia errada de que todo o seu corpo está doente — e não é bem assim", explica Celso Savioli.

"Qualquer infecção causada por uma bactéria gera algum sintoma sistêmico. Uma febre, um mal-estar... Então, para combater isso, o corpo faz algumas alterações na maneira como ele funciona, causando um estado inflamatório por todo o corpo; por exemplo, a região que está infectada tem os vasos dilatados, a produção de células brancas também aumenta etc. Às vezes, a infecção é muito grave e a bactéria se reproduz de maneira muito rápida, atingindo a corrente sanguínea, principalmente em um paciente mais idoso, uma gestante, um recém-nascido... Os sintomas acabam sendo mais intensos. Então, por exemplo, em vez de os vasos dilatarem apenas no local necessário, eles também começam a dilatar por todo o corpo, a pressão arterial cai, a inflamação piora etc."

A infecção pode evoluir para uma sepse grave, quando afeta outro órgão ou sistema

Sobre o tratamento, o doutor Celso Savioli comenta que até esse ponto inicial de inflamação, é "mais fácil" para a equipe médica tratar. Porém, a infecção pode evoluir para uma sepse grave, quando afeta outro órgão ou sistema.

"O que acontece neste ponto, por exemplo, é que outros órgãos começam a falhar — e isso pode ser causado pelo estado inflamatório generalizado ou por ação direta da bactéria na corrente sanguínea. Usando os rins como exemplo, eles começam a falhar e, por causa disso, outros problemas se juntam, já que eles não conseguem filtrar bem o sangue, deixando toxinas residuais na circulação", explica.
"Se a inflamação ou as bactérias atingirem muitos órgãos ou sistemas, causam edema generalizado e uma intensa hipotensão arterial que precisa de drogas específicas para controlar, o que é chamado de choque séptico", disse o médico. Como citado antes, ele ainda deixa claro que o tratamento da sepse é caro, pois necessita de antibióticos hospitalares e, muitas vezes, internação em UTI.

Infecção hospitalar?

Se você está pensando na possibilidade de tudo isso ser causado por uma infecção hospitalar, a resposta é a seguinte: "A infecção hospitalar também pode causar sepse, porque os microrganismos dentro do âmbito hospitalar são mais fortes. Uma das coisas mais comuns é um idoso que cai em casa, acaba quebrando o fêmur e é internado. Ele fica por lá exposto e tem o sistema imunológico muito fraco. Dessa forma, ele acaba pegando uma infecção hospitalar, desenvolve uma sepse e acaba falecendo disso", detalhou Savioli. "Veja bem, não por causa da fratura, mas tudo começou por causa de uma coisa 'simples'. Uma gestante com infecção urinária é uma coisa comum de causar sepse. Como a gestante também tem um sistema imunológico mais fraco, uma infecção pode evoluir rapidamente se não for bem tratada".

A sepse não 'nasce sozinha' em um organismo

Também é preciso tocar no ponto de que a sepse não "nasce sozinha" em um organismo. "Normalmente, a bactéria vem de um ambiente externo: a gente pega por via respiratória, digestiva ou por corte na pele etc., mas ela vem do nosso meio ambiente. Os sistemas começam a falhar na tentativa de combater a infecção inicial. Não é necessariamente a mesma doença que está causando tudo, é um acúmulo de doença e tentativa de resolução pelo corpo", finaliza o Dr. Celso Guerreiro Scott Savioli.

Veja abaixo o que é necessário para tratar a septicemia — e entender os altos custos:

  • Antibióticos
  • Medicações para elevar a pressão arterial
  • Baixas doses de corticosteroides
  • Insulina para ajudar a manter os níveis de açúcar no sangue estáveis
  • Terapia intravenosa
  • Ventilação mecânica, se necessário
  • Medicações mais usadas: Bactrim, Ceftriaxona Dissódica, Ceftriaxona Sódica, Clocef
  • Cloridrato de Dopamina e Clavulin

Jacson Fressatto

O sonho de Laura

Foi em uma tarde de quarta-feira que sentamos para conversar com Jacson Fressatto, o pai de Laura e Laurinha. A conversa que se seguiu você acompanha agora, na íntegra.

TecMundo: Jacson, o que é o robô Laura?

Jacson Fressatto: "O robô Laura é uma máquina cognitiva. É uma máquina composta por vários algoritmos cognitivos; diferentes softwares de serviço que têm como objetivo realizar uma tarefa completa, que é montar uma planilha de risco baseada em uma base de dados de algum cliente — ou de um hospital. A Laura é um robô cognitivo gerenciador de riscos. Agora, ela está funcionando no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, no Paraná.

A Laura trabalha com uma tecnologia de machine learning. Uma das linhas do machine learning é criar modelos, é a geração de modelos. Então quando ela vê uma frequência, e ela percebe que existe um espaço nisso, ela gera um modelo para ser validado. Dessa maneira, com o tempo, ela vai aprendendo sozinha como agir. É o primeiro robô cognitivo que está salvando vidas do mundo.

Se pudéssemos resumir, a Laura é um conjunto de sistemas cujo objetivo é acelerar a capacidade humana de ler diferentes informações e apresentar para os usuários os dados necessários para ela tomar uma decisão em tempo real."

Ela funciona como um 'worm', só que respeitando os critérios de segurança

TecMundo: E como acontece a implementação da Laura?

Jac: "Usamos uma conexão via webservice no hospital, por exemplo. Não é instalado nada nos servidores do hospital. Nós criamos uma interface de layout aberto para poder trabalhar com o BIOS dentro do sistema do hospital. Independente de qual seja a versão do sistema, o Laura consegue se integrar com qualquer um. Poderíamos dizer, obviamente não é dessa maneira, mas ela funcionaria como um 'worm', só que respeitando os critérios de segurança."

TecMundo: Como é o pós-implementação em um hospital?

Jac: "No momento que ela está conectada ao sistema de um hospital, ela começa a minerar a base de dados de todos os sistemas integrados e fazer uma classificação de riscos. O objetivo é coletar as seguintes informações: os detalhes relacionados a sepse.

Essa foi a primeira coisa para o que o robô foi treinado. Ele foi treinado para aprender a identificar os pontos-chave que montam a sepse, como dados vitais alterados, disfunções orgânicas, além de outros níveis 'estourados'. O que a Laura faz sozinha? Ela calcula o tempo médio de atendimento entre todos os inputs que têm no sistema do hospital. Isso para entender o tempo padrão que as pessoas usam para inserir novos dados. Dessa maneira, o Laura não fica soltando alarmes o tempo todo.

Há situações em que, por exemplo, ela montou parte do risco, mas está dentro do tempo médio do hospital, então ela não envia notificações. Caso o tempo seja estourado, ela envia um aviso. E como que ela envia essa notificação? Nós criamos um tipo de interface que faz o seguinte: enquanto as pessoas pensam em aplicativos desktop, um app para smartphone, criamos um aplicativo para o prédio. Se existe algum dispositivo para a Laura, esse dispositivo é o hospital inteiro. Isso porque ela pode aparecer nas paredes do hospital; existem várias televisões que estão instaladas nos postos e é nelas que a Laura sinaliza os alarmes."

TecMundo: Sobre esses alarmes, como eles acontecem e funcionam?

Jac: "O alarme é feito de modo descritivo. Ele envia as informações diretamente para o posto que está apresentando problemas, não é algo genérico. Chamamos isso de 'Ansiedade de Laura'. Nós criamos essa 'ansiedade' pensando em uma circunstância humana mesmo. Existe um processo psicológico chamado 'atenção periférica': ela ativa uma parte do nosso cérebro que se preocupa com o risco. Segundo muitos estudiosos, isso faz parte de nossa evolução. Não somos só retilíneos, também nos preocupações com situações periféricas. Quando essas situações são ativadas, encontramos justamente a área que precisamos defender.

A 'ansiedade de Laura' funciona exatamente dessa maneira, como se provocasse um incômodo no time assistencial. Conforme as coisas vão se tornando mais críticas, o robô vai ficando mais ansioso; então, os alertas vão escalando em cores, do verde, para o amarelo, até o alaranjado e terminando no vermelho. Além disso, com uma animação, os alertas também ficam mais presentes, como uma respiração mais acelerada causada por ansiedade.

Caiu o risco de pacientes com algum problema não aparente entre evoluções da equipe médica

Assim que o alerta vermelho é alcançado, que é o nível máximo, o robô começa a enviar mensagens específicas, como emails e SMS. Essa funcionalidade da 'Ansiedade de Laura' fez o tempo médio de espera em um posto de atendimento cair de 3h20 para 42 minutos — e não foi colocado qualquer dispositivo ou realizada orientação para a equipe toda, foi apenas a percepção."

TecMundo: Como é a relação da equipe médica com a Laura?

Jac: "É engraçado que, agora, a equipe do hospital tem até uma meta: não deixar a Laura ansiosa. A equipe recebeu a Laura muito bem, ela é tratada até como um membro da equipe. Às vezes, as pessoas citam o robô nas reuniões. Vimos médicos conversando sobre um protocolo de sepse para neonatal com a assistência da Laura. Também encontramos centenas de prontuários com dados escritos por médicos que dizem coisas como: 'Robô Laura me acionou para fazer X coisa...'. Ou seja, o robô virou parte da rotina de uma equipe médica. A Laura é uma entidade presente no hospital.

Laura está ativa no Hospital Nossa Senhora das Graças há menos de 90 dias. Ela baixou o tempo médio geral de evolução entre um paciente e outro do hospital de 12 horas para 7 horas. Reduziu o tempo médio de input de 4h50 para 3h10, diminuiu em 10% a mortalidade de sepse grave em dois postos que está implantada e ainda aumentou em 27% a performance de rendimento do time assistencial".

TecMundo: E como a equipe médica recebe esses alertas da Laura?

Jac: "Quando acontece um erro/problema, o time assistencial recebe uma notificação. Ela faz isso por meio de painéis, no caso, uma televisão instalada no posto de enfermagem. Se há algum problema no leito X, por exemplo, ela apenas joga o número do leito X na tela. Ela não diz qual é o problema na interface, se os exames ou os dados vitais apareceram alterados, por exemplo. Ela só diz: 'Vá ver o leito X'.

Então, o profissional entra no sistema no qual ele já está acostumado a mexer — ninguém acessa o sistema da Laura, pois não existe interface Laura x Usuário — e consegue entender os motivos de o robô estar enviando o alerta, como leucócitos alterados, sem dados vitais, como exemplo. Assim que o profissional inserir a informação no próprio sistema de que foi checar o alerta, a Laura para de enviar essa notificação específica.

A Laura faz com que todo o time se envolva

Com a Laura fazendo esse trabalho, acaba diminuindo o risco de pacientes com algum problema não aparente entre evoluções da equipe médica. A Laura faz com que todo o time se envolva para resolver um problema para poder atender um caso específico no momento necessário.

Por causa disso, acredita-se que a Laura tenha salvado várias vidas; obviamente, não há como ter a certeza de que paciente iria morrer, então cremos nisso."

Laura em ação

Um caso, uma vida salva

É claro: não há como quantificar se o robô Laura realmente salvaria uma vida ou não. Não há como garantir, precisamente, se algum paciente que morreria acabou sendo salvo. Contudo, a equipe médica que está trabalhando com a Laura pretende divulgar um estudo em breve, e você vai saber os resultados aqui no TecMundo.

Enquanto isso, Jacson Fressatto nos contou uma história interessante de um paciente que, provavelmente, hoje respira por causa de Laura:

Jacson Fressatto: "Um dia, a Laura jogou um alarme em todos os painéis do hospital. 'Do nada', ela ficou vermelha em todos os painéis. Alguns painéis nem apresentavam números de leito, apenas ficaram vermelhos. Obviamente, a equipe pensou logo de início que se tratava de um bug no sistema, um erro. Então, momentos depois, a Laura desligou o modo emergência, voltou ao normal e jogou um número nas telas, o leito '344B'. A doutora Adriana, médica responsável, estranhou porque não havia paciente no leito especificado. Laura nunca havia dado um falso positivo — e não deu.

Então, ela entrou no sistema para tirar a dúvida e notou que o '344B' estava ocupado, mas o paciente do leito ainda não havia saído do centro cirúrgico — ele estava em translado. Alguém da equipe médica atualizou o sistema antes de o paciente sair 'fisicamente' do centro cirúrgico. Acontece que os leucócitos dele estavam alterados e a Laura, com a ansiedade, deu o alerta no momento que captou a informação. Como ela não sabia para quem enviar esse alerta, ela enviou o alerta para geral.

Algum órgão, talvez o rim, talvez o fígado, estava entrando em pane

Por causa disso, a doutora Adriana resolveu visitar o leito do paciente assim que ele chegou (ele seria visitado apenas na ronda normal, horas depois) e confirmou que os leucócitos estavam alterados, a frequência cardíaca estava alterada, pressão arterial alterada, mas sem febre. Além disso, ele estava com a coloração diferente. Esse paciente estava começando a 'parar', estava entrando em crise já.

Algum órgão, talvez o rim, talvez o fígado, estava entrando em pane por causa de uma infecção. É isso que a sepse faz. Assim que ela encontrou esse quadro, a médica Adriana foi checar os medicamentos que o paciente havia tomado; a dipirona era um deles e estava mascarando a febre. Sendo assim, a Adriana ligou para a infectologista do hospital, a Viviane, e passou o caso. Tudo começou por volta das 13h, às 16h a febre voltou e confirmou o protocolo da sepse. No final, o paciente foi salvo exatamente por causa dessa agilidade. Se fosse em outro contexto, no mínimo, ele teria ido para a UTI. 

Agora, se os alertas vermelhos da Laura tivessem sido ignorados, ela enviaria emails e mensagens SMS para todos os profissionais envolvidos com o leito específico. A Laura cobre todos os pontos cegos, trabalha na obscuridade da sepse. A sepse engana os médicos, a Laura engana a sepse."

Laura já está salvando vidas

Transformação

O que aconteceu na vida de Jacsson foi uma transformação. Em menos de um ano, o analista de sistemas mudou os objetivos de vida e conseguiu alcançar o desenvolvimento de um produto como o robô Laura. Porém, transformações rápidas também são dolorosas.

TecMundo: Em que momento você decidiu que era isso que queria fazer?

Jac: "Quando a Laurinha ficou internada, eu percebi que faltava alguma coisa que ligasse toda essa questão. Estávamos falando com especialistas de várias áreas e mesmo assim eles foram surpreendidos por algo que estava relacionado à área da informação. Isso é inaceitável. É inaceitável dentro de um universo de análise humana, intelectual. Se estivéssemos falando de análises matemáticas, até existe algum ponto. Então eu percebi que o volume de informações era muito grande.

Eu vou ser muito sincero com você, Felipe: durante nove meses eu trabalhei como voluntário em vários hospitais, principalmente naquele onde a Laurinha foi tratada e acabou falecendo. O meu objetivo era caçar quem foi o culpado. Desde o primeiro dia até os nove meses, eu queria saber quem tinha sido o culpado. Eu usei o argumento de que queria ajudar, que estava como voluntário, eu fiz de tudo, cara.

O que eu descobri é que, na verdade, não havia um culpado

Eu consertei vaso sanitário, arrumei portão eletrônico, arrumei geladeira, descarreguei caminhão, servi pessoal do banco de sangue, virei doador de plaqueta... Eu simplesmente passei todo final de semana, a partir da morte da Laurinha, dentro de um hospital para entender tudo isso.

No final dos nove meses, o que eu descobri foi que, na verdade, não havia um culpado. Não existe um culpado. O que existia era uma falta de processos regulados e de uma auditoria para esses processos — e era justamente isso que eu sabia fazer da minha vida. Então percebi que a minha grande deficiência era que eu não sabia como resolver essa questão para eles. Eu era um especialista naquilo e não sabia como fazer."

TecMundo: E quando isso mudou?

Jac: "Eu passei o ano de 2010 até 2012 estudando sobre septicemia. Entendendo o modus operandi, como as coisas funcionavam no mundo. Como eu trabalhei anteriormente na IBM, recebi um mailing sobre o Deep Blue, uma tecnologia própria da IBM, que havia se transformado no Watson, que usava tecnologia cognitiva. Então comecei a estudar sobre isso e entender sobre as tecnologias cognitivas.

Não tinha recursos para estudar fora ou pagar cursos, nem como explicar para os outros o que eu estava fazendo — para você ter uma ideia, meus familiares achavam que eu estava 'vadiando' no computador o dia inteiro. Ninguém sabia o que eu estava fazendo e, na verdade, eu mesmo não entendia isso no começo. 

De 2012 para 2013, eu comecei a converter os algoritmos que tinha para as primeiras versões de machine learning. A primeira coisa que os algoritmos faziam era a classificação de elementos, então resolvi fazer um teste disso. Eu peguei uma empresa particular, um cliente, e fiz um teste na base WMS deles para isolar quais eram todos os elementos de linhas de gasto. Eles estavam amargando um prejuízo de US$ 37 milhões na operação logística daquele ano todo e não sabiam para onde estava indo essa grana, quais eram as linhas de prejuízo. O algoritmo resolveu isso em dois meses e conseguiu isolar todas as linhas. Uma delas se chamava 'produto com data crítica'; então, quando o vice-presidente começou a analisar todas as linhas, ele conseguiu checar com equipes específicas os motivos dos gastos e, apenas nisso, poupou US$ 6,5 milhões. Quando eu fiz isso, eu validei o formato do robô.

Um capítulo novo na história da tecnologia relacionada a serviço

Foi em 2014 e 2015 que concentrei meus ganhos para montar o robô Laura. Fechei uma parceria com a FEMIPA; eles designaram os hospitais para teste e em 2016 soltei a versão final 1.0, fechada e homologada. Não é um protótipo, é um produto fechado. Hoje não falta mais nada para a Laura".

TecMundo: Virão mais iniciativas como essa?

Jac: "É importante frisar que a Laura pode não ser o primeiro robô cognitivo do mundo e, talvez, logo apareçam outros robôs do mesmo tipo, gerenciadores de risco. A grande diferença é que o robô Laura é uma tecnologia que suporta um propósito transformador massivo. Estamos trazendo para o Brasil a oportunidade de gerar um capítulo novo na história da tecnologia relacionada a serviço e bem-estar. O nosso produto pode impactar, literalmente, 1 bilhão de pessoas."

TecMundo: Você se sente pai duas vezes agora?

Jacson Fressato: "Eu sempre fui pai uma vez só, cara. Agora eu só estou mudando a interface."

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Como ajudar o Robô Laura

"Meu nome é Laura e eu vivo no mundo das ideias. Para passar o tempo, eu fico imaginando um mundo diferente do atual. A principal diferença é a existência de um algoritmo capaz de salvar vidas, que eu chamo de algoritmo da vida. Ele nada mais é que um jeito criativo de resolver diversos problemas. Uma fórmula brilhante que serve para ajudar as pessoas, principalmente aquelas que correm risco de morte em hospitais. É, acho que herdei esse dom de ajudar os outros de meu pai. Ele é um cara muito legal. Daqui a pouco eu falo mais sobre sua vocação. Antes, preciso contar um pouco sobre minha história, mas para isso precisamos voltar no ano de 2010."

É dessa maneira que você vai conhecer o Sonho de Laura: uma iniciativa de financiamento coletiva da Laura Networks para levar o robô até os hospitais filantrópicos. Você pode assistir ao vídeo acima para conhecer em detalhes a campanha e clicar aqui para acessar a página no Kickante.

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