Como é que os abutres comem carniça e não ficam doentes?

24/10/2014 às 08:032 min de leitura

Você sabe o que acontece quando comemos algo meio passadinho, assim, levemente estragado, não é mesmo? E não são apenas os seres humanos que sofrem com as consequências de ingerir alimentos deteriorados. Então, como é que os abutres comem carniça e não ficam doentes? Afinal, esses animais não só se alimentam de bichos mortos, mas de criaturas que morreram por conta de doenças e, muitas vezes, já estão até podres!

De acordo com Karl Smallwood, do site Today I Found Out, o fato de os abutres não adoecerem depois de comer carcaças de animais se deve em grande parte a seu extremamente ácido suco gástrico. Segundo Karl, as substâncias presentes no sistema digestivo dessas aves são poderosas o suficiente para aniquilar a maioria das bactérias que entram em seus organismos antes que elas possam causar qualquer dano.

Relembrando as aulas de química

Para que você tenha uma ideia do poder do estômago dos abutres, lembre-se das aulas de química. Nós aprendemos que a escala do pH varia de 0 a 14, sendo que o 0 é utilizado para classificar uma substância extremamente ácida, o 7 para algo neutro e o 14 para classificar uma substância altamente alcalina. E essa escala é logarítmica, ou seja, cada valor inteiro é 10 vezes mais ácido do que o próximo valor mais alto da escala.

Karl explica que o pH do estômago humano, por exemplo, costuma ficar entre 1 e 3, enquanto o ácido das pilhas fica um pouquinho abaixo de 1, marcando 0,8 na escala. Já o ácido estomacal de algumas espécies de abutres — como o urubu-de-cabeça-vermelha — é praticamente igual a 0 e é tão absurdamente ácido que pode inclusive dissolver vários tipos de metal.

Aliás, segundo Karl, tecnicamente falando e com base na escala de pH, o estômago dos abutres pode chegar a ser mil vezes mais ácido do que o nosso. Além desse fator, essas aves também contam com um dos sistemas imunológicos mais formidáveis de todos os vertebrados. Sendo assim, caso uma bactéria — com superpoderes! — consiga sobreviver ao “mergulho” no suco gástrico, é pouco provável que ela escape da defesa do organismo dos abutres.

Banquetes

Curiosamente, apesar de terem estômagos e imunidade extraordinários, os abutres parecem ter estabelecido um limite no estado de putrefação do que vão devorar. Contudo, isso não significa que eles deixem petiscos das carcaças dando sopa. De acordo com Karl, algumas espécies — como o abutre-barbudo — sobrevivem com uma dieta composta por 70 a 90% de ossos, cujo valor calórico é mais alto do que o da carne fresca, além de serem mais duráveis.

Surpreendentemente, apesar de os abutres terem ganhado a fama de serem vetores de doenças, a verdade é que essas aves contribuem para o contrário. Estudos apontaram que, quando ocorre o declínio na população de abutres de determinada região, o índice de doenças e pragas aumenta, muitas vezes significativamente. E isso não se deve apenas ao fato de essas aves se alimentarem de carcaças.

Além de as aves terem preferência por carcaças mais limpas e de seu sistema digestivo matar praticamente qualquer patógeno consumido por elas, enquanto estão em pleno banquete, os abutres têm o hábito de defecar e urinar sobre suas pernas e ao redor do animal morto. E seus dejetos, evidentemente, também são ácidos e, portanto, atuam como agentes esterilizadores.

Utilidade pública

Um exemplo que ilustra bem a importância dos abutres foi uma queda brusca na população dessas aves na Índia. Seu quase desaparecimento levou a uma explosão no número de cães selvagens e ratos, que antes competiam com os abutres pelas carniças. Contudo, esses animais, ao contrário das aves, são vetores de várias doenças, inclusive a raiva.

Além disso, os restos das carcaças — como os ossos antes petiscados pelos abutres — começaram se acumular e a contaminar fontes de água, aumentando ainda mais a propagação de doenças. Segundo o Today I Found Out, todo esse desequilíbrio é especialmente alarmante na Índia, onde apenas 4% do rebanho estimado em 500 milhões de cabeças de gado são abatidos para consumo humano.

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