Ciência
07/02/2018 às 15:00•2 min de leitura
Você leu o título da matéria e ficou curioso em saber que coisa sinistra é essa de hiena pré-histórica devorando o rosto de um neandertal? Pois é isso o que concluíram alguns pesquisadores que examinaram uns dentes que foram encontrados em um sítio arqueológico conhecido como Marillac, situado na França. Mas deixe a gente explicar esse papo direito!
De acordo com Laura Geggel, do site Live Science, os dentes não foram encontrados agora, mas durante escavações realizadas de 1965 a 1980. Nesse período, uma imensa quantidade de ossos — incluindo de animais como renas, cavalos e bisontes — foi recuperada no interior de uma caverna que existe no local, entre eles ossos de neandertais.
Esses são os dentinhos (Live Science/G. Delvider/UMR PACEA CNRS/Pradelles excavation team)
Os dentes que falamos estavam nesse bolo e, durante anos, foram identificados como sendo de algum bicho desconhecido. Só que os exemplares voltaram a ser examinados e essa nova análise revelou que, em vez de serem dentes de animais, eles pertenciam a um homem de neandertal — cujo rosto foi devorado por um carnívoro faminto.
A confusão na identificação aconteceu porque os dentes foram parcialmente digeridos e regurgitados pela fera e, portanto, sua estrutura foi alterada durante esse processo. Com relação a como esse encontro entre carnívoro e neandertal aconteceu, os cientistas também têm uma teoria de como tudo sucedeu.
Segundo Laura, por conta da quantidade e variedade de ossos encontrados em Marillac, os cientistas acreditam que o local costumava ser uma espécie de acampamento onde os neandertais se reuniam durante as caçadas para cortar, separar e inclusive saborear a carne dos animais abatidos. Uma forte evidência de Marillac era frequentado para esse fim é que muitos dos ossos apresentam marcas de corte e outros sinais.
(Filthy Monkey Men)
No meio da montanha de ossos que foram encontrados em Marillac (só de rena, foram mais de 17 mil!), foram identificados ossos de neandertais — também contendo marcas de corte, indicando que possivelmente rolava um canibalismo durante os "churras" no acampamento. Na verdade, brincadeiras a parte, os cientistas não sabem dizer se o consumo da carne dos companheiros realmente acontecia, e se o tratamento dado aos corpos não fazia parte de algum ritual funerário.
Enfim, o fato é que na mesma época em que os neandertais usavam o local para os encontros de caça, as hienas-das-cavernas (Crocuta crocuta spelaea) — uma espécie extinta que era maior e mais corpulenta que as hienas atuais — rondava pela região e estava entre os carnívoros mais perigosos para os nossos antigos "primos".
Hiena-das-cavernas (Wikimedia Commons/PierreSelim)
Os cientistas que descobriram que os dentes regurgitados pela hiena-das-cavernas eram de um neandertal acreditam que o ele provavelmente estava morto quando seu rosto foi atacado pela fera, e é possível que o animal tenha encontrado seu maxilar para roer. Bem, tomara que isso seja o que aconteceu mesmo, né? Coitado do cara se ele ainda estivesse vivo quando o carnívoro apareceu!
Acontece que os dentes, apesar de basicamente serem ossos, eles são muito mais resistentes do que o maxilar. Assim, o que parece ter acontecido é que a hiena roeu e roeu, engoliu tudo, digeriu somente uma parte do petisco e vomitou as "canjicas" do neandertal — que foram descobertas milhares de anos depois, causaram a maior confusão e levaram um time de cientistas a retraçar toda essa história.