Tráfico de guepardos em países árabes pode extinguir animal

03/10/2019 às 07:303 min de leitura

Cerca de 300 jovens guepardos (Acinonyx jubatus) são traficados para fora da Somalilândia — território que pertence oficialmente à Somália e que compõe a principal rota de trânsito para o tráfico de chitas no Chifre da África — todos os anos. Esse é aproximadamente o mesmo número de guepardos que vivem livremente na península, enquanto menos de 7.500 vivem em estado selvagem em outros lugares do continente, segundo informações do Cheetah Conservation Fund (CCF), instituição que tenta salvar a espécie na natureza.

aFonte: Divulgação/Pixabay

De acordo com o CCF, a tendência é de "proporções epidêmicas". Com as atuais taxas de tráfico, a população de guepardos na região poderá em breve ser extinta. "Se você fizer as contas, a matemática mostra que será apenas uma questão de alguns anos para não termos mais nenhum guepardo", afirmou a bióloga de conservação americana e fundadora do CCF, Laurie Marker.

Destino: Península Árabe

Uma reportagem investigativa da CNN descobriu que o comércio ilegal de chitas foi alimentado principalmente por clientes super ricos no Oriente Médio, que compram gatos selvagens de contrabandistas como animais de estimação exóticos. Os animais são contrabandeados através da fronteira da Somalilândia, depois guardados em caixotes apertados ou caixas de papelão em barcos e enviados através do Golfo de Áden em direção ao seu destino final: a Península Árabe. Dados apontam que 60% das transações foram feitas na Arábia Saudita. 

aFonte: Divulgação/All that interesting

Enquanto muitos desses países - incluindo os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita - proíbem a propriedade privada e a venda de animais silvestres, a fiscalização é frouxa. Estima-se que mil guepardos sejam mantidos como animais de estimação por proprietários particulares.

Os animais acabam nas mansões árabes do Golfo, onde os grandes felinos mais ameaçados da África são ostentados como símbolos de status dos ultrarricos e são exibidos em postagens nas mídias sociais. Em um desses posts, um vídeo mostra um guepardo como "animal de estimação" assistindo a um programa da National Geographic e ficando visivelmente agitado quando vê um deles na tela. "Ela é apaixonada por sua família", diz a legenda. Outras postagens mostram chitas deitadas em carros de luxo, sendo empurradas para dentro de piscinas, recebendo sorvete e pirulitos à força. 

Travessia mortal

Para os guepardos, uma vida em confinamento pode ser mortal se a jornada não os matar primeiro. Muitos dos filhotes contrabandeados chegam ao Golfo com pernas mutiladas e quebradas após uma jornada difícil. Três em cada quatro morrem durante a viagem, de acordo com Marker.

aFonte: Divulgação/Pixabay

Além disso, como o mamífero terrestre mais rápido do mundo, os guepardos precisam de espaço para correr e de uma dieta especial. A maioria dos proprietários do Golfo não sabe cuidar dos felinos e a maioria das chitas que vive em cativeiro morre dentro de um ou dois anos, disseram especialistas à CNN.

Veterinários que atuam nos países do Golfo conversaram com a CNN de forma anônima e confirmaram a gravidade da situação. Um deles tratou diversos animais de clientes ricos que não sobreviveram e disse que viu guepardos sofrerem de distúrbios metabólicos e digestivos porque as pessoas não sabem como alimentá-los. Além disso, o guepardo é uma espécie delicada, especialmente suscetível a doenças felinas e infecciosas, disse o veterinário.

Negócio ilegal, mas lucrativo 

O tráfico de animais selvagens é uma indústria lucrativa, estimada em até US$ 20 bilhões por ano, cerca de R$ 81,8 bilhões, de acordo com informações das Nações Unidas e da Interpol. De fato, está entre as cinco principais indústrias ilícitas do mundo, juntamente com drogas e tráfico de pessoas.

Um estudo da CCF feito em 2018 documentou 1.367 guepardos à venda em redes sociais entre janeiro de 2012 e junho de 2018, principalmente no Golfo Árabe. Os valores partiam de US$ 6,6 mil (R$ 24 mil) chegando até US$ 10 mil (R$ 41 mil) por cada animal. A maioria dessas vendas foi realizada via Instagram e YouTube. Embora os anúncios tenham sido registrados em 15 países, mais de 90% deles são originários de nações do Golfo Árabe. Em relação aos vendedores, os três principais estão baseados na Arábia Saudita, sendo responsáveis por um quinto de todos os anúncios.

Corrida para a salvação

aFonte: Divulgação/Pixabay

A Somalilândia é uma das regiões menos desenvolvidas do mundo e a pobreza está levando as pessoas a se envolverem em atividades ilícitas. Mas seu governo diz que intensificou a repressão aos traficantes de animais silvestres nos últimos dois anos. No abrigo da CCF, na Somalilândia, 32 guepardos resgatados são atendidos em um esconderijo. Funcionários e voluntários internacionais querem construir um abrigo maior, algo como um santuário de vida selvagem.

Mas os custos sobem à medida que mais gatos são levados para o abrigo. Atualmente, as despesas totalizam US$ 10 mil por mês, cerca de R$ 41 mil, segundo a CCF. Laurie Marker apelou à liderança dos países para aumentar a conscientização do público sobre o assunto. "Nós realmente precisamos de influenciadores, precisamos dos governos, reis, príncipes ou rainhas para dizer que isso não está certo", disse ela. "Se pudermos salvá-los, daremos a eles a melhor vida que eles podem ter, mas eles não devem estar sob nossos cuidados. Eles devem estar na natureza", finalizou.

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