Por que as pessoas ficam de luto quando uma celebridade morre?

25/06/2015 às 05:094 min de leitura

A notícia da morte do sertanejo Cristiano Araújo e da namorada dele, Allana Morais, chocou o Brasil inteiro e, desde então, o que se vê são depoimentos de artistas, amigos, familiares e fãs do cantor, que não apenas lotaram o Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia, onde os corpos estão sendo velados, como enviam mensagens de solidariedade em eventos sertanejos e também nas redes sociais.

Pessoas famosas, quando morrem, realmente conseguem deixar um país inteiro de luto, ou, no caso de celebridades como Michael Jackson, um planeta inteiro. Você já se perguntou por que essa comoção acontece? O que será que nos leva a sofrer com a morte de uma pessoa que provavelmente nunca nem vimos de perto? Será que isso é apenas uma questão de solidariedade? Ao que tudo indica, não.

Para exemplificar bem esse assunto, podemos levar em conta que as pessoas que não conheciam o trabalho do cantor, embora comovidas com a tragédia, não passam pelos estágios de luto como os fãs do sertanejo, que choram, rezam e se emocionam quase como se fossem amigos íntimos de Araújo.

Essa comoção com a morte de celebridades queridas parece ter a ver com o fato de que, no caso dos fãs, Cristiano Araújo esteve presente em momentos importantes de suas vidas, quase como se fosse um amigo ou um parente.

São pessoas que ouviram as músicas do cantor em momentos especiais, que se emocionaram com algumas canções, que se divertiram ao som de outras, que se identificaram com alguns versos. Ainda que o fã não tivesse o contato real com o ídolo, ele contava com a presença do sertanejo em programas de televisão, sites e revistas dedicados a comentar a vida de celebridades e, com força total nos últimos anos, nas redes sociais.

Araújo era conhecido entre os fãs por responder a comentários sempre com muita atenção. Era o artista que distribuía sorrisos em suas apresentações, muito bem quisto entre outros artistas do meio, apresentadores e jornalistas. Além do talento para a música, é evidente que o carisma de Araújo foi fundamental para a construção de sua carreira.

Toda essa questão do comportamento social do cantor, da forma alegre como se apresentava, das parcerias musicais, da atenção com o público nas redes sociais e também durante os shows, além das letras, da música alegre e da identidade de seu trabalho contribuem para que os fãs criem essa conexão emocional com a pessoa famosa, ainda que a maioria dos fãs nunca tenha visto Araújo de perto, muito menos trocado algumas palavras com ele.

Outro fator que contribui para o sentimento de luto por uma pessoa famosa é a identificação com essa pessoa, o que acontece quando fã e famoso estão na mesma faixa etária ou são moradores da mesma região, por exemplo. Além disso, condições familiares delicadas também nos comovem. Quando a Princesa Diana morreu, o mundo inteiro ficou em choque: não apenas ela era, à época, a mulher mais famosa do planeta, como era jovem e tinha dois filhos.

O falecimento de Diana, também provocado por um acidente de carro, nos faz perceber que, de fato, a morte é um acontecimento inevitável, capaz de pegar de surpresa mesmo as pessoas mais ricas, que têm condições melhores de saúde e segurança, dois fatores essenciais quando o assunto é a expectativa de uma vida longa.

Outro ponto que emocionalmente coloca pessoas em uma posição de luto diante da morte de uma celebridade é a lembrança de uma perda recente, especialmente quando o motivo da morte é semelhante. É absolutamente normal, portanto, que aqueles que perderam amigos ou familiares em acidentes de trânsito voltem a sentir uma tristeza parecida com a do luto pessoal.

Agora com relação às redes sociais, muitas das pessoas que publicam homenagens à celebridade morta o fazem, inconscientemente, também pela necessidade de fazer parte de uma espécie de movimento.

Muitas pessoas têm essa necessidade de se fazerem ouvidas, ainda que nem percebam isso. Nesse sentido, a internet e o surgimento das redes sociais acabaram contribuindo para que milhões e milhões de anônimos pudessem sentir a sensação de que estão sendo ouvidos e de que, mais ainda do que isso, fazem parte de um universo antes dominado apenas por famosos: o das notícias.

Se antes precisávamos comprar um jornal para saber a opinião de alguns colunistas, hoje temos acesso a essa opinião na internet, que ampliou o número de “colunistas”, digamos assim. E, como se não bastasse, qualquer material publicado pode se tornar um viral, que nada mais é do que os famosos “15 minutos de fama” dos tempos de Andy Warhol.

No caso do luto, as redes sociais possibilitam também uma espécie de “senso de comunidade”, que seria algo capaz de unir mais e mais pessoas, que se encontram porque dividem a mesma tristeza. Compartilhar nossos pensamentos e lamentações nos torna parte de um grupo muito maior, e se tornar parte de um grupo é uma das características mais humanas de todas.

Gostar de pessoas com as quais temos afinidades, sejam elas famosas ou não, é outra característica que nos humaniza – e isso pode ser visto também como uma maneira de nos agrupar, de novo. Nesse sentido, a morte de alguém com quem nos identificamos por algum motivo é mais sentida por nós, ainda que essa pessoa seja uma celebridade que nunca tivemos a chance de conhecer.

A morte de um famoso pode, às vezes, fazer com que as pessoas sintam uma espécie de vazio existencial. Quando há essa questão de aproximação por idade, região, identidade, características pessoais ou mesmo apenas pela necessidade de fazer parte de um frenesi online, sentimos uma dor significativa, como se realmente tivéssemos perdido alguém próximo ou até mesmo algum familiar.

A lembrança de que todos morrem um dia, independente da idade, da relevância social ou da condição financeira, é e sempre vai ser uma questão delicada, que mexe com cada pessoa de maneira diferente. Nesse sentido, valem reflexões a respeito da morte, a coisa mais comum de todas e, paradoxalmente, a menos comentada e sobre a qual menos gostamos de pensar.

De qualquer forma, assim como acontece quando alguém que conhecemos morre, é importante lembrarmos que a tristeza tende a passar. No caso dos familiares de Cristiano Araújo e de Allana Morais, a superação da perda pode demandar também tratamentos médicos e terapêuticos. A aceitação não acontece de uma hora para a outra, e é preciso que esses familiares tenham o apoio de outras pessoas da família, dos amigos e que, além de tudo, tenham sua privacidade respeitada.

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