Veja o que a civilização Harappa pode nos ensinar sobre mudanças climáticas

25/11/2018 às 07:003 min de leitura

Construir a infraestrutura de uma cidade não é algo simples nem barato, tanto que, mesmo hoje em dia, há lugares que não contam com soluções consideradas comuns nos grandes centros. Por isso, é necessário um motivo muito bom para abandonar um local onde grande parte dessa estrutura já existe.

A civilização Harappa, que viveu no vale do rio Indo há 4 mil anos, provavelmente passou por um dilema assim. Ocupando a região onde hoje fica o Paquistão, esse povo deixou vestígios de uma economia próspera e intercultural, mas, por volta de 1800 a.C., abandonou cidades altamente estruturadas e se mudou para os arredores do Himalaia. A análise das mudanças climáticas na região mostrou que esse provavelmente foi um dos motivos para essa migração, o que pode servir como um sinal de alerta para nós.

Mudanças naturais

Nosso problema atual é o aquecimento global; porém, uma pesquisa recente, que analisou informações de sedimentos do mar Arábico, apontou que o povo Harappa sofreu com uma "mini Era do gelo". As mudanças fizeram com que os invernos se tornassem mais úmidos, diminuindo assim a quantidade de chuva durante o verão. Sem irrigação suficiente para a agricultura, a única opção foi migrar para um local com condições climáticas mais favoráveis.

Para Liviu Gosan, geólogo e autor principal do estudo, “embora as precipitações irregulares do verão tornassem a agricultura difícil ao longo do rio Indo, no sopé das montanhas a umidade e a chuva vinham de forma mais previsível. As tempestades de inverno do Mediterrâneo atingiam o Himalaia e criavam chuva no lado paquistanês, alimentando pequenos córregos. O volume de água era bem menor do que os Harappas estavam acostumados, mas pelo menos eles podiam contar com o fenômeno”.

A análise só foi possível graças a tipos específicos de sedimentos presentes no fundo do mar Arábico. As alterações climáticas foram identificadas através de um plâncton, chamado de foraminifera, que se desenvolvia de forma acentuada durante as monções de inverno. Nessas ocasiões, os ventos traziam nutrientes do fundo do oceano até a superfície, causando uma onda de vida vegetal e animal.

O plâncton serviu como um indicador de quais camadas representavam a época de monções, e, como o ambiente apresenta baixo nível de oxigênio, os pesquisadores puderam analisar o DNA de outros fósseis que também estavam muito bem preservados. Isso criou condições para a identificação de grande parte da fauna e flora que habitou a região na época.

Efeitos potencializados

Apesar da grande quantidade de informações sobre o ambiente em que os Harappas viviam, não foi possível afirmar os reais motivos da mudança deles. O fato é que isso aconteceu, e as alterações climáticas podem ter desempenhado um papel relevante nessa empreitada. As encostas do Himalaia proporcionaram condições de vida razoáveis por um tempo, mas as chuvas acabaram diminuindo por lá também, culminando na extinção da civilização.

Giosan e sua equipe acreditam que a chegada da cultura indo-ariana na região, com ferramentas da Idade do Ferro, cavalos e carroças, também tenha um papel relevante no ocorrido. A combinação de mudanças pode ter sido o que culminou no fim da civilização Harappa, algo que já foi identificado em diversas ocasiões na história da humanidade.

Hoje, além das alterações que acontecem naturalmente, contamos com a potencialização dos efeitos da poluição, produzida de forma deliberada. Apesar das tentativas de conter essa escalada na temperatura global, muitos líderes nacionais se recusam a enxergar as consequências que a produção indiscriminada de agentes poluentes pode causar.

No passado, migrar para uma região em que as condições são mais propícias para uma vida confortável não era tão simples, mas não existiam barreiras como as de hoje. Pesquisadores de todo o mundo apontam que as mudanças apenas começaram e regiões sujeitas a inundação frequente, como a cidade de Bangladesh, ou muito favoráveis ao surgimento de tornados, como o sul dos EUA.

Em um planeta cada vez mais instável, o aumento dos desastres naturais pode ser o estopim para uma revolta social ou uma migração em massa, causando problemas humanitários de ordem global. A solução de uma situação como essa passa longe do simples, por isso a melhor saída é prevenir, pois talvez não seja possível remediar.

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