O vampiro que causou histeria coletiva em Londres

24/11/2015 às 13:436 min de leitura

Londres, 1969: relatos contam que uma aparição foi vista entre os túmulos do cemitério Highgate. As vítimas afirmam que foram confrontadas por essa aparição, que tomou a forma de um homem alto e as deixou petrificadas.

Um homem alegou ter sido o primeiro a encontrar com o tal “fenômeno” e que este o teria hipnotizado. Ele contou que as luzes do local começaram a falhar, e ele decidiu sair, mas que, de alguma forma, ficou perdido. Sem acreditar na existência de fantasmas, o homem caminhou lentamente até se dar conta de uma presença. Ele se virou e viu um fantasma pairando pouco acima do chão. Paralisado, ele contou que sentiu uma energia que, em questão de segundos, o deixou inconsciente do mundo ao seu redor. O homem permaneceu por algum tempo ali até que o espectro desapareceu. 

Mesmo sem querer revelar seu nome ao público, o homem, que exercia a profissão de contador, teve seu depoimento creditado por muitas pessoas. Algo chamou atenção em seu relato: ele afirmou que a entidade teria tentado lhe causar danos físicos, o que é incomum em descrições fantasmagóricas. 

Outras pessoas foram entrevistadas ao logo das semanas, mas as descrições pareciam exageradas e até mesmo frutos de invenção, fazendo com que os policiais achassem que tudo não passava de um rumor.

Entretanto, o depoimento de uma senhora parecia ser uma exceção em meio às histórias: ela afirmou que havia sido assustada por um homem alto, que flutuou em sua direção. A senhora estava andando pelo local com seu cachorro quando, ao passar pelos portões do cemitério, ele começou a uivar e recuar. Ela então olhou para dentro e se deparou com uma figura de olhos brilhantes que, em questão de segundos, desapareceu. 

Portões do cemitério Highgate

Após recolherem os depoimentos, os responsáveis pelo caso foram ao cemitério Highgate a fim de coletar provas e verificar os locais em que as vítimas relataram ter visto a suposta aparição. O cemitério havia sido vandalizado, e logo eles encontraram alguns caixões despedaçados e até mesmo um esqueleto, que havia sido arrancado de seu túmulo.

Também foi encontrada uma raposa morta no meio da via principal. Observando-a de perto, não foi possível encontrar qualquer sinal que pudesse indicar o motivo de sua morte. Tudo isso, no entanto, não ajudou a resolver o mistério. De fato, além de rumores e outras histórias infundadas, a única evidência eram os testemunhos de duas pessoas. 

Ao saberem do caso, membros da British Psychic and Occult Societ, uma associação voltada a fenômenos espirituais, resolveram passar uma noite no cemitério. A data escolhida foi 21 de dezembro – véspera do solstício de inverno e época em que se acreditava que as forças psíquicas teriam acesso mais fácil ao plano terreno. Por volta das 23 horas, um dos membros começou a andar por uma rua estreita que passava ao lado do cemitério. Ao chegar nos portões, ele resolveu observar o local de vários ângulos, pensando que, talvez, a senhora pudesse ter confundido a sombra de uma árvore ou um túmulo com uma aparição.

Olhando através das barras enferrujadas do portão, ele percebeu que, mesmo com a escuridão penetrante, era possível discernir os objetos, como túmulos e estátuas. Porém, quanto mais ele andava, mais o escuro parecia lhe pregar uma peça. O vento movia-se através da vegetação rasteira e, novamente, ele pensou que isso poderia ser a causa da “aparição” vista pela mulher de idade. 

À direita do caminho, algum animal grande correu pelo mato. Então, de repente, algo chamou sua atenção: a cinco metros dali era possível ver uma forma alta. Seria a tal aparição? 

Rejeitando a imagem como algo sobrenatural, o homem preferiu pensar que a figura era alguém vagando pelo cemitério – mesmo que essa pessoa tivesse mais de 2 metros de altura. Mas sua dúvida logo foi dissipada quando dois olhos avermelhados encontraram seu olhar. Não eram olhos humanos: o olhar era penetrante como o de um lobo faminto, apesar de a criatura não ter semelhança alguma com o animal.

Sem aviso, a forma logo desapareceu. 

Conde Drácula e a Peste Negra

Depois desta experiência, os membros da associação acharam razoável presumir que os depoimentos fossem autênticos e, por isso, decidiram que seria realizada uma vigília noturna no cemitério. Câmeras e gravadores foram colocados em alguns lugares, mesmo que pessoas ligadas ao assunto afirmassem que elas não conseguiriam captar nada. Para não causar alarde, os depoimentos passaram a ficar em segredo. Mesmo assim, uma carta foi enviada a um jornal local convidando as pessoas a contarem suas experiências em Highgate.

Quando uma nova investigação foi iniciada em janeiro de 1970, o primeiro passo foi verificar o histórico do cemitério. Algumas coisas interessantes vieram à tona: tornou-se evidente que as histórias de aparições tinham origens muito anteriores, datadas da era vitoriana e, em muitas delas, era usada a expressão “vampiresco”.  

Talvez a razão para isso tenha sido que o próprio Bram Stoker, autor de “Drácula”, havia se inspirado pela existência de “algo” no cemitério Highgate, fazendo referência ao local como sendo o último lugar de descanso de um dos discípulos do Conde Drácula. Além disso, relatos dão conta de que Stoker também pode ter sido influenciado pelo misterioso caso de Elizabeth Siddal, que morreu em 1855 e foi enterrada no Highgate. Em 1862, seu corpo foi exumado por um parente perturbado, que alegava que alguns poemas teriam sido enterrados com ela. Uma testemunha presente, Charles Augustus Howell, descreveu como “impressionante” o que viu: o cabelo vermelho-ouro de Elizabeth havia enchido o caixão, como se ela tivesse sido enterrada viva, talvez em estado de catalepsia.

  

Também foram encontrados relatos antigos de que um homem alto, vestido de preto, costumava desaparecer misteriosamente através do muro do cemitério. Apesar da diferença de tempo entre as histórias, elas eram muito semelhantes, a não ser pelo “elemento vampiro”. Os vitorianos, com seus medos profundamente enraizados no desconhecido e na morte, podem ter contribuído para o estabelecimento de uma das maiores lendas já vistas.

Mas o que teria dado origem a essas aparições que geraram tantas histórias e contos? Apenas uma coisa era certa: tudo havia se iniciado há muito tempo. Para começar, a referência de Stoker para a área e sua relação com vampiros quase certamente sugere que ele estava familiarizado com os contos locais. Mas havia outro fato importante para fundamentar o presente: no século 15, Highgate foi usado como um cemitério para as mortes em massa provocadas pela peste negra. O cemitério foi escolhido por, na época, ser uma aldeia afastada, mas, ao mesmo tempo, de acesso conveniente a quem estava em Londres. As vítimas eram trazidas da Cidade Velha e depositadas no local.

Tudo isso não passa de um fato histórico, mas é interessante notar que talvez as mortes causadas pela peste negra tenham ligação com os contos de vampiros. Basicamente, esses enterros foram realizados de forma rápida e em grandes quantidades, não podendo ser descartada a possibilidade de alguém ter sido enterrado vivo.

No entanto, a investigação também descobriu outro fato de grande importância: fotografias comprovaram que rituais satânicos estavam acontecendo lá.  Um grande grupo de pessoas utilizavam os túmulos e adereços para suas cerimônias, que pareciam bem elaboradas.

Registro mostra rituais de magia negra no local

Um túmulo em particular, um pequeno mausoléu com chão de mármore, mas que não continha caixões, havia sido convertido em templo, contendo um pentagrama invertido e símbolos mágicos inscritos no piso e nas paredes. Especialistas no assunto afirmaram que as inscrições tinham relação com uma entidade que só poderia ser convocada para o plano terrestre se fosse realizar alguma missão. 

Quando a imprensa entrou na história

Duas semanas após a investigação ser reaberta, dois vigias noturnos relataram que viram a aparição. Mais raposas foram encontradas mortas, entretanto, ao contrário das anteriores, essas tinham ferimentos profundos na garganta.

As pessoas continuavam a mandar relatos do que teriam visto no cemitério. Estas foram algumas das respostas:

“Meu noivo e eu vimos uma forma incomum, cerca de um ano atrás. Ela só parecia deslizar pelo caminho. Esperamos um pouco, e ela sumiu. Estou contente que mais alguém tenha visto isso. Estava convencida de que não era minha imaginação.” Audrey Connely, 13 de fevereiro de 1970

“Avistei-o enquanto estava andando ao redor do cemitério. Vi algo se mover e imediatamente olhei em volta, observando algo se mover por trás das lápides. Não ouvi nenhum som, e logo ele sumiu.” D. Winbourne, 20 de fevereiro de 1970

O jornal local ficou interessado no caso e, em 6 de março de 1970, publicou uma matéria com o título “Por que as raposas morrem?”, em relação aos animais encontrados mortos no cemitério, às aparições e ao possível “vampiro” que rondava o lugar. Por outro lado, era bem possível que as raposas tivessem sido sacrificadas pelos satanistas em seus rituais de magia negra. 

O interesse público continuava a crescer, e o cemitério Highgate tinha atraído também o interesse da televisão, que preparava um programa sobre o famoso “fantasma/vampiro”. No dia da gravação, algo inesperado aconteceu: assim que chegou ao local, o responsável pelas filmagens segurou sua própria garganta e desmaiou.

A repórter, Sandra Har, ficou visivelmente abalada, ainda mais depois de a equipe ter se deparado com mais um caixão vandalizado, o que deixou o cadáver exposto. Durante a entrevista, um homem de caráter teatral afirmava se tratar do “Vampiro Rei” e disse que, para destruir um vampiro, era preciso cravar uma estaca através de seu coração em um só golpe, cortar sua cabeça com uma pá de coveiro e, em seguida, queimar o corpo.

A transmissão do programa, feita em uma sexta-feira 13, causou tal histeria coletiva que centenas de pessoas foram ao cemitério Highgate para testemunhar uma “caça ao vampiro” inexistente. O professor Alan Blood (sobrenome real) chegou a viajar para Londres levando vários de seus alunos para participarem da busca.

Kit para matar vampiros

Grupos inteiros chegavam, alguns com latas de cerveja e armas improvisadas para enfrentar o tal “vampiro”. Curiosos escalavam as paredes e buscavam sepulcros abertos. Várias pessoas gritavam, alegando terem visto algo em meio à escuridão. Outros chegavam com tochas.

Os efeitos decorrentes de tal publicidade logo puderam ser vistos: mais vandalismo para o cemitério. Cadáveres foram tirados de seus túmulos e encontrados com estacas em seus peitos, alguns foram decapitados, outros queimados.

Lugares como Highgate, que trazem muitas memórias tristes em sua história, têm a atmosfera perfeita para a criação de lendas que permanecem no inconsciente coletivo por séculos. Se o Drácula foi inspirado por notícias de acontecimentos em Highgate, temos mais um caso de “arte imitando a vida... e a vida imitando a arte”.

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