Psicologia reversa: será que isso funciona mesmo?

15/04/2017 às 05:003 min de leitura

É bem possível que você já tenha ouvido falar em psicologia reversa em algum momento da sua vida, e é igualmente possível que você já tenha utilizado esse recurso, ainda que de maneira inconsciente. Aliás, quando o assunto é psicologia, a palavra “inconsciente” quase nunca fica de fora.

O conceito da psicologia reversa é bastante simples, e qualquer pessoa que já tenha convencido uma criança a escovar os dentes com argumentos como “tudo bem, não precisa escovar os dentes; o Joãozinho também não escovou, pena que ele acabou ficando com um monte de cáries” sabe bem do que estamos falando. A psicologia reversa é utilizada quando achamos que uma pessoa vai dizer não a algum pedido e, por isso, pedimos para que essa pessoa faça o oposto do que queremos.  

Ainda que estejamos acostumados a pensar que essas técnicas de psicologia reversa funcionam apenas com criança, não é bem assim: pessoas de todas as idades podem cair nesse truque psicológico. De acordo com a psicóloga Jeanette Raymond, em declaração publicada no How Stuff Works, essa tática funciona porque as pessoas costumam ter uma necessidade grande de independência.

É por essa mesma questão de independência que não gostamos de acatar ordens e, sempre que possível, fazemos de tudo para ter a sensação de que somos livres e escolhemos o que queremos. Vem daí, portanto, a nossa facilidade em cair em truques de psicologia reversa – ou de intervenção paradoxal, como é chamada pelos psicólogos.

Dentro da terapia, quando o psicólogo aplica técnicas de intervenção paradoxal, geralmente ele pede ao paciente que ele faça exatamente aquilo que busca deixar de fazer. Por exemplo: se a pessoa quer deixar de procrastinar, o psicólogo pode pedir para que ela passe 1 hora por dia procrastinando.

A ideia por trás desse exercício é fazer com que o paciente consiga enxergar claramente esse padrão de comportamento, de modo que identifique, com o passar do tempo, o que provoca essa conduta. Assim, é possível perceber que se trata de um comportamento voluntário e que, portanto, pode ser controlado.

Essa técnica, embora seja aplicada por alguns terapeutas, não é considerada ideal para todo tipo de tratamento ou de paciente – há até mesmo quem acredite que a intervenção paradoxal é apenas um mito. Além do mais: será que essa metodologia funciona com todas as pessoas? Ao que tudo indica, a psicologia reversa dá certo mesmo quando usada em pessoas que gostam de estar no controle das situações e que costumam tomar decisões com base em emoções, já que pessoas mais passivas e que não se incomodam em receber ordens costumam fazer o que é solicitado.

Raymond usa outro exemplo curioso de como a psicologia reversa funciona. Conforme a psicóloga nos lembra, Julian Assange, criador da WikiLeaks, não parou de investigar nem de divulgar informações sigilosas mesmo com inúmeros pedidos e ameaças. Ela acredita que a WikiLeaks não teria divulgado tantas informações se Assange tivesse recebido apoio em vez de ameaças.

Para ter uma ideia de como esse conceito funciona na prática, muitos testes já foram realizados. Nesse sentido, é sempre mais fácil provar a influência da psicologia reversa em crianças, que simplesmente detestam quando seus pais dizem o que elas podem ou não fazer.

Em um desses testes, pequeninos de apenas 2 anos de idade foram avisados de que não poderiam se divertir com um determinado brinquedo. Adivinha só? De repente, todas as crianças estavam eufóricas, querendo o tal brinquedo mais do que tudo.

Outro experimento, realizado com crianças um pouco mais velhas, seguiu a seguinte programação: elas poderiam escolher um entre cinco pôsteres disponíveis. No meio da escolha, elas foram informadas de que um dos pôsteres não poderia ser escolhido e, de repente, a mágica aconteceu: o pôster indisponível se tornou o mais desejado entre os pequenos.

Só para você ter ideia, alguns estudos já comprovaram que alertas de conteúdo impróprio para crianças, exibidos em programas de TV, fazem com que elas tenham ainda mais vontade de assisti-los.

Não há dúvidas de que a psicologia reversa funciona realmente com crianças, mas é preciso que os pais utilizem esse recurso com alguns cuidados e moderação, afinal o uso excessivo desse tipo de truque vai deixá-lo perceptível e ineficiente – as crianças passam a ver os pais como manipuladores, o que é um péssimo negócio.

Além do mais, é fundamental que não se adote a psicologia reversa de maneira negativa, causando problemas de autoestima na criança. Quer um exemplo? Jamais diga a uma criança que você vai fazer uma tarefa para ela, já que ela provavelmente faria da maneira errada.

Com adolescentes, a tática funciona também. Digamos que uma garota de 15 anos está implorando para que seus pais a deixem ir a uma festa que vai acabar muito tarde: os pais podem dizer que ela pode ir, enfatizando o fato de que eles sabem que existe perigo nessa saída. A partir daí, quem vai tomar a verdadeira decisão vai ser a adolescente, que pode acabar preferindo ficar em casa.

É preciso deixar claro que essa tática não pretende estimular crianças e adolescentes a agirem de maneira errada. Na verdade, a ideia é fazer com que a opção incorreta se torne pouco atraente. A psicóloga Vicki Panaccione, no entanto, é contra a utilização do método. Para ela, a psicologia reversa ensina à criança que o que os pais estão dizendo não é verdade, e fica aqui mais uma razão para recorrer a esse truque com muita cautela.

*Publicado em 20/01/2016

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