Entenda como a erupção vulcânica no Chile deixou o céu brasileiro roxo

04/05/2015 às 12:143 min de leitura

No último dia 22 de abril, o vulcão Calbuco, localizado em Los Lagos, Chile, entrou em erupção pela primeira vez depois de 40 anos. A nuvem massiva de poeira vulcânica foi lançada a uma altura de 10 km, transformando os arredores em um deserto cinzento coberto de cinzas.

Essa erupção causou o cancelamento de dezenas de voos e outros problemas em todos os países que circundam o Chile, especialmente Argentina, Uruguai e Brasil. O momento exato da explosão foi registrado em um vídeo impressionante por Walter Witt, que percorria uma trilha no entorno de Calbuco.

E o que nós aqui no Brasil, além de termos perdido alguns voos para o Chile e para a Argentina, temos a ver com esse acontecimento? “Ganhamos de presente” um belíssimo crepúsculo arroxeado que foi fotografado no Rio de Janeiro por Hélio de Carvalho Vital no dia 26 de abril. Suas fotos registram um pôr-do-sol que, em vez de avermelhado ou alaranjado, apresentou cores como lilás, violeta e roxo.

Galeria 1

Catástrofes naturais

Levando em conta a interferência causada pela erupção do vulcão na atmosfera de todas as regiões próximas e não tão próximas assim, é possível explicar o que pode ter acontecido para que o céu apresentasse essa coloração diferente. Quando um vulcão entra em erupção, ele explode com a pressão acumulada debaixo da terra.

A cratera é o ponto mais “fraco” que essa pressão encontra para escapar. Quando isso acontece, toneladas de poeira vulcânica, que é composta principalmente por dióxido de enxofre, são atiradas para cima. O vento e as massas de ar que se deslocam sobre o continente conduzem esse dióxido de enxofre a distâncias enormes em forma de uma fina névoa que contém partículas minúsculas dessa substância e fica suspensa no ar.

Poeira vulcânica do Calbuco espalha-se sobre o Chile.

Para entendermos a coloração roxa, devemos entender primeiramente como as cores “comuns” do céu se formam: o azul durante o dia e as cores avermelhadas e alaranjadas quando o sol está nascendo ou se pondo. O que acontece é que os raios de luz solar penetram na atmosfera e são refletidos pelas partículas de diversos materiais que a compõem.

Somando isso com o ângulo de penetração da luz e a distância que ela atravessa para chegar aos nossos olhos, temos as cores que conhecemos. O azul acontece durante o dia, quando os raios penetram a atmosfera em um ângulo mais reto e percorrem uma distância menor até a gente. Quando o sol está baixo, a angulação e a distância maior para atingir nossa visão fazem com que o céu ganhe uma coloração que tende mais para o vermelho.

A cor púrpura

Chegamos finalmente ao roxo. Essa cor provavelmente domina o firmamento porque os raios de luz solar interagem também com essa névoa de dióxido de enxofre espalhada por causa da erupção vulcânica, além dos materiais já presentes no ar. O vermelho do pôr-do-sol fica mais forte com a presença do dióxido, enquanto parte da névoa suspensa em locais mais altos reflete a cor azul. Essa mistura, como aprendemos um dia na escola primária, forma a cor roxa.

Outras cores também podem ser formadas no céu através desse mesmo efeito, gerando colorações exóticas e muito bonitas. Além de encher nossos olhos, essas alterações de tom também têm uma função muito interessante: cientistas podem inferir quantidades de poeira vulcânica emitida por certas erupções por meio de pinturas históricas que mostram diferentes cores no céu.

A maior de todas as erupções

Um exemplo clássico é o quadro “O Grito”, do pintor norueguês Edvard Munch. Nele, podemos observar fortes cores avermelhadas no céu causadas provavelmente pelos efeitos de uma das maiores erupções vulcânicas registradas na história, a do vulcão Krakatoa, localizado entre as ilhas de Java e Sumatra, na Indonésia, a cerca de 11 mil quilômetros de distância de onde o quadro foi pintado, para se ter uma ideia da abrangência dessa catástrofe natural.

"O Grito", de Edvard Munch.

Essa irrupção, ocorrida em agosto de 1883, afetou o planeta Terra como um todo, tendo sido ouvida cinco horas depois na costa leste da África. Esse foi considerado o som mais alto já produzido no planeta. Tsunamis afetaram barcos na costa da África do Sul e até o Canal da Mancha, entre a Inglaterra e a França, sofreu alterações em sua maré.

Parte do material expelido na explosão foi lançada para fora da atmosfera, com quantidades de poeira vulcânica entrando em órbita na Terra. No ano seguinte, 1884, a temperatura média do planeta caiu 1,2 °C e a combinação da quantidade massiva de enxofre expelido com a água da atmosfera gerou chuvas ácidas em diversos lugares.

Litogravura de 1888 representando a erupção do Krakatoa.

Espalhando-se pelo mundo

Não é à toa que tenha sido possível testemunhar alterações de todo o tipo, inclusive na coloração do céu durante o crepúsculo, em diversas partes do mundo. Em comparação, a erupção do vulcão Calbuco não chega aos pés do Krakatoa, mas ainda assim vai causar uma série de alterações climáticas negativas, como a morte de milhares de salmões, dos quais o Chile é um dos maiores produtores mundiais.

O imponente Calbuco.

A nuvem de poeira vulcânica, caso se mantenha no caminho que está percorrendo, deve em breve atingir o continente africano e, logo após, o Oriente Médio. É muito provável que também seja possível testemunhar nesses lugares as cores diferentes que têm pintado o céu brasileiro. Resta torcer para que os efeitos negativos desse vulcão raivoso sejam os menores possíveis.

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