O controverso Projeto Stargate para leitura de mentes

02/06/2020 às 14:003 min de leitura

Por mais irônico que possa parecer, teorias da conspiração contra o governo dos Estados Unidos nasceram em círculos de inteligência do próprio país. Foi bem no início da década de 1970, no apogeu da Guerra Fria, que o governo norte-americano se convenceu de que a União Soviética poderia estar usando espiões com capacidades psíquicas avançadas para ter vantagem em estratégias de conflito.

Durante um período de extrema tensão e rivalidade, os EUA queriam desenvolver em agentes secretos a percepção extrassensorial (PES), que envolve telepatia, clarividência e psicocinese, tudo para conseguir ter uma espécie de arma viva mais potente que o oponente. Eles acreditavam que a existência desses "poderes" se manifestava através de uma perspectiva psicológica, enquanto os soviéticos enxergavam um prisma mais científico, focando os esforços no âmbito da parapsicologia e explorando essas habilidades como algo sobrenatural.

Na época, a União Soviética já tinha cerca de 30 centros de estudos de perturbações sensoriais, que começaram a ser analisadas em 1920.

Diga-me o que vê

(Fonte: Reality Sandwich/Reprodução)
(Fonte: Reality Sandwich/Reprodução)

A Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA começou a financiar a própria pesquisa psíquica ultrassecreta em 1972, tendo o seu quartel-general no Stanford Research Institute, em Menlo Park, na Califórnia. A princípio, o programa se chamava Gondola Wish, mas ao longo de 20 anos chegou a ter quatro nomes, até que se firmou como Projeto Stargate.

Em 1977, o foco na exploração dos poderes psíquicos era a leitura da mente, pois os militares queriam saber o que os russos estavam construindo em um depósito que ficava no norte da União Soviética, descoberto através de satélites. Um ex-paraquedista israelense chamado Uri Geller, conhecido por sua capacidade de dobrar talheres com o poder da mente, foi convocado pela CIA para que fossem analisadas, principalmente, suas habilidades no âmbito de leitura de mentes, permitindo desenvolver estudos para a segurança nacional. Geller foi fundamental para as primeiras investigações sobre psicocinese em um laboratório em Livermore.

Em 1979, a CIA interrompeu e moveu o projeto para Maryland, e ele passou a ser financiado pelo exército dos EUA. Chamado de Fase I, o estudo começou a de fato recrutar homens e mulheres que afirmavam ter poderes extrassensoriais, contando com a ajuda de cientistas da Universidade Stanford e um orçamento que chegou a 20 milhões de dólares ao longo de 20 anos de experimentos.

A audição dos candidatos consistia em pedir que adivinhassem qual carta de baralho estava na mão do examinador. As fases seguiram em peneira até que sobrasse o time final, considerado com mais capacidades psíquicas. Após selecionadas, as cobaias ficavam confinadas em quartéis, sem contato com o mundo exterior ou umas com as outras, e eram exploradas durante várias horas todos os dias da semana.

Um objeto bem-sucedido

Joseph McMoneagle (Fonte: Alchetron/Reprodução)
Joseph McMoneagle (Fonte: Alchetron/Reprodução)

A visualização remota era o foco dos cientistas. Os recrutados acreditavam que era possível, por meio de uma projeção extracorpórea, enxergar algum objeto, pessoa ou lugar a uma grande distância. Eles realizaram isso de uma sala para a outra, pedindo que as pessoas identificassem padrões desenhados em uma folha de papel ou que "fossem os olhos" de um satélite em outro planeta.

O médium nova-iorquino Ingo Swann integrou a equipe de cobaias do Projeto Stargate e foi um dos que tiveram a mente mais bem documentada. Durante um experimento, foi instruído que usasse o seu poder para mover um instrumento de cordas. Segundo os registros vazados em 1995, em 80% das sessões houve movimentos significativos no objeto. A precisão de outros candidatos, no entanto, beirava 30%.

Com o lançamento do satélite Pioneer 10 para Júpiter, os pesquisadores isolaram Swann e um candidato chamado Harold Sherman em tanques de privação sensorial para que pudessem fazer descrições do planeta. Ambos deram detalhes idênticos, como se tivessem sincronizado as visualizações do local. Eles ainda mencionaram nuvens espessas multicoloridas que cercavam o astro e cristais flutuantes. Em 2000, o satélite Juno tirou fotografias de alta definição de Júpiter e comprovou que a superfície era igual aos relatos dos homens.

Joseph McMoneagle foi quem mais se destacou entre os recrutados para o projeto. Seu prestígio psíquico ganhou espaço assim que lhe foi mostrada a foto do galpão soviético identificado pelo satélite e ele disse, apenas com o poder da mente, que os oponentes construíam um submarino — muito embora essa ideia fosse absurda, visto que estava muito longe do mar. Quatro meses depois, a embarcação saiu do barracão e atingiu as águas.

Até 1984, o homem integrou cerca de 450 missões secretas, ajudando o exército a localizar reféns no Irã e até agentes da CIA através de ondas emitidas por um rádio transmissor.

Um fracasso argumentado

(Fonte: His
(Fonte: Historic Collection/Reprodução)

Em 1995, centenas de relatórios vazaram, mostrando as conclusões fracassadas do Projeto Stargate. Apesar de respostas positivas em vários ensaios, com variantes estatísticas maiores, os analistas tinham reconhecido que nenhum dos experimentos produziu "inteligência acionável" e que algumas informações fornecidas pelas visualizações eram "vagas e ambíguas".

O custo total de 80 milhões para um projeto psíquico com fins militares de inteligência chocou o mundo todo. Apesar de o Pentágono ter negado veementemente, o Governo Clinton tratou de encerrar qualquer atividade do programa. Ainda naquele ano, foram investidos mais 3,85 milhões de dólares em outro estudo de exploração do sexto sentido, mais especificamente no âmbito da premonição.

Em 2017, sob absoluta pressão das leis de liberdade de informação e de defensores que iniciaram ações judiciais, a CIA disponibilizou milhares de documentos ultrassecretos, entre os quais havia mais arquivos acerca do Projeto Stargate. Com um furor midiático tão grande, a relevância desse assunto foi questionada de tal modo que em 2005 o Instituto Gallup realizou uma pesquisa de campo relacionada. As análises apontaram que cerca de 73% dos norte-americanos na época acreditavam em fenômenos de cunho paranormal, sendo que 41% dos entrevistados consideravam mais viável a existência de poderes extrassensoriais do que de algo mais espiritual.

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