Óleo de coco: será que ele realmente é o superalimento que dizem por aí?

17/08/2017 às 07:435 min de leitura

Se você é da turminha que cuida da dieta, tenta levar um estilo de vida saudável e está antenado nas novidades que surgem nessa área, então deve estar por dentro do sucesso que o óleo de coco andou fazendo por aí. E o sucesso foi até justificado considerando a enorme gama de benefícios associados à inclusão desse ingrediente no dia a dia das pessoas.

Você certamente já ouviu falar sobre os benefícios relacionados com o óleo de coco, né? (Radiant Life)

De emagrecedor a estimulante mental, o óleo de coco passou a ser indicado para todo tipo coisa, como hidratar a pele e cabelos, tratar a acne, melhorar quadros de insônia, sanar picadas de mosquito, acalmar queimaduras, aliviar hemorroidas, ajudar na cicatrização de cortes e ferimentos... Basta fazer uma simples busca na internet para encontrar um sem fim de receitas e usos para o produto!

De onde surgiu a fama?

Enfim, o fato é que óleo de coco se transformou em um superalimento de uma hora para outra, mas, será que ele realmente é tão milagroso assim? Bem, de acordo com David Derbyshire, do The Guardian, parece que uma das razões de produto ganhar tamanha fama foi um estudo conduzido no início dos anos 2000, liderado pela professora de Medicina Nutricional da Universidade Cornell, nos EUA, Dra. Marrie-Pierre St-Onge.

De onde tiraram tantos milagres? (Reader’s Digest)

O time da pesquisadora estava trabalhando em identificar os impactos de triglicérides de cadeia média (ou TCM) — um tipo de molécula de gordura que contém cadeias de ácidos graxos mais curtas do que de outras gorduras e que é encontrada no óleo de em concentrações mais altas do que em qualquer outro alimento natural — no organismo.

O estudo envolveu a participação de 24 homens com sobrepeso e revelou que, ao longo de um mês, os indivíduos que consumiram uma dieta mais rica nesse tipo de gordura perderam por volta de 450 gramas a mais do os que haviam se alimentado com uma dieta rica em triglicérides de cadeia longa (TCL), que podem ser encontrados nas gorduras que consumimos habitualmente, como os óleos de girassol e o azeite de oliva as presentes em alimentos como a carne de boi e de frango.

Detalhes... destalhes... (Taste for Life)

Pesquisas posteriores lideradas pela mesma cientista também apontaram maior perda de peso entre pessoas que consumiram uma dieta mais rica em TCM em comparação com grupo que se alimentou com uma dieta mais rica em azeite de oliva. Acontece que existe um pequeno detalhe nessas pesquisas: apesar de o óleo de coco ser o alimento com a maior concentração de TCM de que se tem notícia, apenas algo em torno de 13 a 15% da composição de sua gordura consiste em triglicérides de cadeia média. Os 85-87% restantes são de cadeia longa.

Outro detalhe: os cientistas que conduziram os dois estudos usaram um tipo de gordura especialmente elaborado para os ensaios que consistia em 100% de TCM e não exclusivamente em óleo de coco. No entanto, parece que foi a partir dos resultados dessas pesquisas que o ingrediente começou ganhar protagonismo — e começou a ser visto por muitos como um superalimento com propriedades emagrecedoras e medicinais.

Mais pesquisas

Conforme o óleo de coco foi ganhando protagonismo, muitas outras pesquisas foram realizadas para comprovar as propriedades atribuídas ao ingrediente. Afinal, conforme explicou a própria Dra. Marrie-Pierre, a partir dos estudos nos quais ela participou, era impossível dizer se o óleo de coco sozinho e em concentrações normais ofereceria os mesmos resultados que a gordura composta por 100% de TCM que o time usou nos experimentos.

De acordo com um relatório apresentado pela Fundação Britânica de Nutrição, não existem suficientes evidências científicas de que o óleo de coco tenha propriedades medicinais ou que seu consumo ofereça melhoras à saúde. Na verdade, segundo Julie Corliss, da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, a revisão de uma série de pesquisas (21 no total) inclusive apontou que o consumo do óleo pode fazer mal e oferecer riscos à saúde de pessoas que sofrem de doenças cardiovasculares e têm problemas com o colesterol.

Evidências conflitantes (Beardoholic)

Conforme explicou, desses 21 estudos, oito se referiam a ensaios clínicos nos quais voluntários consumiram diferentes tipos de gordura, como o óleo de coco, manteiga e gorduras vegetais insaturadas, que incluem óleos como o de girassol, milho e azeite de oliva. Os pesquisadores observaram que, comparado com as gorduras insaturadas, o óleo de coco foi o que teve o maior impacto sobre o aumento do colesterol total, HDL (ou “bom”) e LDL (ou “ruim”) — e só a manteiga parece ter tido um efeito negativo maior do que o óleo de coco.

Julie também mencionou outro estudo, realizado em 2016, cujo foco estava em identificar a relação entre o consumo de diferentes tipos de ácidos graxos saturados e a ocorrência de problemas cardíacos. A pesquisa apontou que o ácido láurico (ou dodecanóico), principal ácido encontrado no óleo de coco, aparentemente oferecia menos riscos de que alguma doença surgisse — no entanto, esse tipo de gordura não é tipicamente usado na culinária nos EUA, país onde o estudo foi realizado, portanto, é difícil estabelecer os reais efeitos do consumo.

Uma coisa a se considerar é que muitos defensores do óleo de coco se apoiam em estudos conduzidos com populações onde essa gordura é largamente usada na culinária, como é caso de alguns países do Sul Asiático e da região do Pacífico. Contudo, nesses locais, as dietas tradicionais também incluem muito mais frutas, verduras e peixes do que as dietas ocidentais — o que significa que não é exclusivamente o óleo de coco que faz essas dietas mais saudáveis, mas o equilíbrio que existe do todo.

Resultados moderados

Mas esses resultados que mencionamos acima não foram os únicos com os quais nos deparamos. O pessoal do site Health Line, por exemplo, fez uma interessante análise de 13 estudos científicos diferentes — você pode conferir o artigo completo com a lista de pesquisas através deste link — que examinaram uma série de benefícios associados com o óleo de coco, como a aceleração do metabolismo, o aumento da queima calórica, redução da gordura abdominal, influência nos níveis de colesterol, relação com problemas cardiovasculares e ação anti-inflamatória.

Resultados mornos (Beardoholic)

Dos estudos que focaram nos efeitos do óleo de coco na perda de peso e aceleração do metabolismo, a análise apontou que as pesquisas identificaram sim uma relação entre o consumo do óleo e um aumento no metabolismo, ainda que temporariamente (geralmente nos primeiros 14 dias da dieta, com uma estabilização depois desse período), assim como uma ligeira redução na gordura corporal e abdominal.

Com relação aos níveis de colesterol e triglicérides, a análise apontou que os estudos identificaram uma relação entre o consumo do óleo de coco e um maior aumento do colesterol HDL (“bom”) quando comparado ao consumo de gorduras insaturadas — e igual ao resultante da ingestão de manteiga. Além disso, o óleo de coco também provocou maior aumento do colesterol total e do “ruim” (LDL), mais do que o provocado pela ingestão da gordura de carne de boi, manteiga e óleo de soja. Não foram observadas variações nos níveis de triglicérides.

Sobre os efeitos anti-inflamatórios e relacionados com outros benefícios à saúde, as pesquisas identificaram que o óleo de coco parece oferecer ligeira ação anti-inflamatória. Mais precisamente, foram observadas melhoras em quadros de gengivite e redução nas bactérias responsáveis pela formação de placa bacteriana, e um incremento na qualidade de vida de pacientes em estágios avançados de câncer de mama.

Tá! Mas, e aí?

Como você viu, embora o uso do óleo de coco esteja associado a uma série de benefícios, não podemos ignorar o fato de as evidências científicas apontarem que os efeitos não são assim tão milagrosos como muita gente acredita. É verdade que seu consumo parece ajudar pessoas com sobrepeso a perder gordura abdominal, assim como acelerar o metabolismo, ainda que temporariamente. Mas não podemos ignorar o fato de se tratar de um ingrediente calórico — uma colher se sopa oferece cerca de 130 calorias —, portanto, o exagero pode anular as vantagens.

Moderação sempre, pessoal! (Golden Barrel)

Além disso, é verdade que a ingestão do óleo de coco também parece ter impacto no aumento do colesterol HDL (“bom”). Por outro lado, foi observado que o ingrediente provoca elevações nos níveis do colesterol total e LDL (“ruim”), portanto, aqui não podemos considerar que sua ação seja especialmente benéfica, não é mesmo? Sendo assim, as evidências sugerem que, apesar de o óleo de coco ser um produto saudável e tal, ele não parece ser o superalimento que “vendem” por aí.

Na verdade, é importante ter em mente que cada organismo reage de determinada maneira à ingestão de gorduras e que a palavra-chave para quem quer levar uma vida saudável é moderação. Não existe qualquer problema em incluir o óleo de coco na dieta, desde que, assim como é recomendado com outras gorduras, não haja exagero. E não espere milagres. Aliás, sabe aquele ditado que diz que “quando a esmola é demais o santo desconfia”? Então, caro leitor! Dica pra vida!

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