Dedos de Lúcifer: uma iguaria cara, preciosa e perigosa de se conseguir

07/10/2018 às 12:002 min de leitura

Entenderemos perfeitamente caso você tenha se assustado com o título desta matéria — afinal, qualquer pessoa estranharia comer algo conhecido como “Dedos de Lúcifer”. Também chamados como trufas do mar, esses percebes (espécie de crustáceo) são considerados uma iguaria luxuosa em Portugal, sendo famosos justamente pela dificuldade em consegui-los.

O nome macabro vem de sua aparência: o alimento realmente se parece com um dedo dotado de unhas, relembrando brevemente a pata de um porco. Um prato do alimento pode chegar a custar 100 euros — o equivalente a R$ 400, e, de acordo com a tradição, deve ser apreciado sem qualquer tempero ou molho. O método de preparo também é ritualístico: os dedos devem ser fervidos durante um minuto, o tempo necessário para rezar o Pai Nosso.

Na hora de comer, nada de talheres: os Dedos de Lúcifer devem ser ingeridos com os próprios dedos. Primeiro, você retira a pele escamosa para revelar sua carne e só então consumí-la. As “unhas” são, na verdade, calcários, logo, não são comestíveis. 

O preço salgado da iguaria é justificado por sua raridade. É impossível plantá-los ou criá-los em um ambiente controlado: eles só crescem e se multiplicam em rochedos na zona intermareal, ou seja, a região que sofre com uma forte instabilidade de marés altas e baixas. Os plânctons que viajam junto com as ondas são os responsáveis por alimentar e tornar os Dedos de Lúcifer aquilo que os portugueses tanto gostam.

Ondas do Satanás

Em entrevista à BBC, caçadores de percebes explicaram o quão arriscada é a sua profissão. Por conta do mar instável, muitos profissionais acabam sendo esmagados contra os rochedos por ondas repentinas ou simplesmente se afogam. Alguns preferem descer os rochedos com uma corda, enquanto outros utilizam barcos para se aproximar das áreas a serem vasculhadas e nadam em sincronia com as ondas.

“Quando você mergulha para colher percebes e ignora a imprevisibilidade do oceano, você provavelmente será ferido ou morto. Há muitos casos de mergulhadores que batem a cabeça e morrem afogados. Os ‘sortudos’ quebram um braço ou uma perna. Isso sem falar nos cortes provocados pelas pedras”, explicou João Rosário, experiente caçador, ao jornal britânico.

Há até mesmo um provérbio compartilhado entre tais profissionais: “Nunca dê as costas para Deus quando mergulhar em busca dos dedos de Lúcifer”. As duas técnicas supracitadas possuem seus pontos positivos e negativos, mas ambas são igualmente perigosas e um dia aparentemente tranquilo de trabalho pode acabar se transformando em uma tragédia.

Essa periculosidade obrigou o governo local a regulamentar a atividade (cada coletor só pode caçar até 15 kg por dia), mas isso não impede que algumas pessoas mais corajosas desafiem a lei e caçam de forma ilegal. Geralmente, os mergulhadores formam duplas para diminuir os riscos e salvar um ao outro caso algum acidente ocorra — logo, é necessário confiar plenamente em seu parceiro.

E qual é o gosto?

Sabemos o que, a essa altura do campeonato, você está se perguntando qual é o sabor dos Dedos de Lúcifer. De acordo com Piet van Niekerk, repórter andarilho da BBC, o gosto dos percebes relembra a sensação de estar “descansando em um dia de sol na praia”, com “o vento tocando o seu rosto e você sentindo o cheiro do mar”. Trata-se de uma descrição bastante poética, não é mesmo? E você, teria coragem de provar essa bizarra iguaria conhecida como os dedos do diabo?

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