Entrevista: conversamos com um ex-gerente de uma casa de prostituição

03/10/2016 às 06:073 min de leitura

Bordel, boate, prostíbulo, puteiro, pulgueiro, you name it. As casas de prostituição, embora relativamente raras, ainda persistem em certos pontos de São Paulo capital e ao redor de todo o Brasil. A lei e o preconceito da sociedade parecem não afetar tais estabelecimentos comerciais, que, aqui na capital paulista, se concentram sobretudo na região do velho Centro — República, Sé, Santa Ifigênia e adjacências.

Mas também é possível encontrar diversão na Lapa, na Penha, em Interlagos e em outras áreas mais afastadas do coração da cidade. Eles mudam de nome e de preços com frequência — alguns cobram pela entrada, outros deixam de oferecer serviço de bar para seus frequentadores, mas todos têm uma característica em comum: permitem que os visitantes se divirtam com belas garotas, dos mais variados tipos e faixas etárias, por um valor que cabe no bolso até do mais desafortunado dos trabalhadores.

Já imaginou como é administrar uma casa de prostituição?

Empreendimento inusitado

“O principal problema desses lugares, diferente do que muitos pensam, não são as brigas com a polícia ou o preconceito da sociedade, mas sim as rixas internas entre as garotas”, relata Raizen, como o próprio preferiu ser identificado. Eu o conheci através do campo de comentários do próprio Mega Curioso, ao publicar outra matéria sobre prostíbulos. Embora hoje trabalhe como arte-finalista, o paulista já gerenciou uma boate no município de São Mateus, localizado na parte leste do estado e que se estende por uma área de aproximadamente 13 km².

Embora fosse um imóvel residencial, parecia que sempre fora planejado para ser uma boate

“Abri o local em 2001 junto com um colega de trabalho. Nós dois resolvemos sair da empresa para a qual trabalhávamos, e, com o dinheiro de nossa rescisão, alugamos um sobrado. Ele tinha bastante espaço, e, embora fosse um imóvel residencial, parecia que havia sido planejado para ser uma boate”, conta.

Não existiu planejamento: o “negócio” começou às pressas mesmo. Raizen e seu sócio compraram colchões, roupas de cama, um freezer para guardar as bebidas e um fogão usado. Também alugaram uma mesa de bilhar e uma jukebox, mas decidiram que os clientes teriam que pagar para escutar as músicas que quisessem.

“Eu sempre dizia para o meu sócio que a música devia ser gratuita, e ele defendia que era um aparelho prático, sem a necessidade de ter uma DJ fazendo a lista de reprodução toda noite. Por incrível que pareça, esse sistema funcionou por todos os anos em que a casa permaneceu aberta. Ainda que os clientes não reclamassem, eu achava estranho ter que pagar para ouvir música em uma balada”, relembra.

Bordel funcionava em São Mateus (imagem ilustrativa)

Ascensão e declínio

O salão principal do estabelecimento era, originalmente, o quintal da residência. Raizen mandou cobrir o cômodo e instalar uma iluminação adequada. A antiga cozinha fez as vezes do bar e já possuía uma janela para o que viria a se tornar o hall da boate. Foi preciso aumentá-la, além de instalar um balcão. O imóvel tinha ainda dois quartos (que foram transformados em quatro com divisórias de madeira), um único banheiro compartilhado por todos os frequentadores e uma sala com televisão que era usada pelas prostitutas enquanto seus turnos não começavam.

Ameaças de morte eram muito comuns entre o pessoal mais estressado

“Abríamos às 18h, e, de vez em quando, aparecia um ou outro cliente nesse horário. Mas o movimento só começava mesmo por volta das 22h. À 1h da manhã, o lugar já estava lotado e permanecíamos abertos até o último cliente. Alguns pagavam uma noite inteira para ficar com a garota e dormiam por lá, mas não era muito comum.”

Raizen conta que, “como em toda balada”, às vezes ele era obrigado a, junto com seu sócio, pedir educadamente para que algum homem se retirasse. “Alguns frequentadores, por estarem embriagados, ficavam alterados e falavam coisas como ‘Não terminei de beber ainda, eu paguei a entrada e só vou embora quando eu quiser’, coisas do tipo”, conta. “O movimento da boate era grande durante os seus primeiros anos, mas, depois de alguns problemas, foi caindo até ficar às moscas”.

Os problemas a que Raizen se refere incluem brigas internas entre garotas e um assalto, no qual uma prostituta levou um tiro no rosto, mas felizmente sobreviveu. “Ameaças de morte eram muito comuns entre o pessoal mais estressado”, pontua. “Depois de tantos conflitos, muitas mulheres debandaram, e acabamos ficando somente com as de maior idade e com as nem tão bonitas assim”. Mas não foram só as brigas que acabaram com os negócios: a gestão do prefeito Gilberto Kassab, que vigorou entre 2006 e 2012,  também colaborou para o fechamento da casa noturna.

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Este texto é uma adaptação de um capítulo de “A grande caça às borboletas”, livro estilo gonzo de autoria do redator Ramon de Souza. A obra, que está sendo escrita desde 2015, aborda a prostituição e a comercialização do sexo como um todo, apresentando as experiências do próprio autor no universo da libertinagem comercial. Você pode conferir outros capítulos do título através deste link, pelo Wattpad.

Fonte

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