“Troca de gentilezas” entre políticos boca-suja já acontecia na Roma Antiga

05/09/2018 às 09:003 min de leitura

A essa altura você deve ter notado que já entramos no famigerado período de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. Nos últimos anos até temos visto menos baixaria e comícios com toda sorte de palavrões entre os candidatos, mas, infelizmente, xingar os rivais é algo comum nessa época que antecede o pleito. E você sabia que essa “troca de gentilezas” não é algo recente? Sim, um novo estudo indica que os boca-sujas já atuavam centenas de anos lá atrás, na Roma Antiga.

De acordo com o levantamento, líderes romanos freqüentemente trocavam ataques verbais e promoviam acusações escandalosas contra seus oponentes. E os governantes também eram insultados pelas próprias comunidades que comandavam. O autor da pesquisa é Martin Jehne, professor de História Antiga na Technische Universität Dresden, na Alemanha.

Seu trabalho, intitulado “Sociedades Divididas”, aborda discursos abusivos e as barreiras existentes entre os grupos sociais, desde os tempos antigos até o presente. O texto aponta que os senadores romanos usavam de táticas para baixar o moral do oponente e fortalecer sua posição entre seus apoiadores — uma estratégia que ecoa nas arenas políticas atuais.

roma antiga

Os insultos eram usados como um misto de entretenimento e agressão, com o objetivo de chamar a atenção e gerar indicação — algo que não mudou muito até os dias de hoje, não é mesmo? “Isso é similar aos insultos, ameaças e discursos de ódio que vemos na Internet atualmente”, comenta Jehne.

Mas tal estratégia pode causar efeitos inesperados, caso haja uma grande adesão popular ao lado mais insultado. “Insultar em contexto público sempre significa lutar pela aprovação do público. E você nunca tem a certeza de como as pessoas reagirão”, alerta Jehne.

A evolução dos impropérios

Os políticos romanos às vezes agiam de modo selvagem em seus momentos coléricos. A pesquisa afirma que Marcus Tullius Cicero, famoso orador que viveu durante o primeiro século d.C., acusou uma vez seu rival Clodius de incesto com seus próprios irmãos e irmãs. Em resposta, Cloudius “xingou” Marcus dizendo que ele “agia como um rei”. Mas como assim, um xinga e o outro elogia? Bem, é que na época, a frase usa por Clodius soou como um discreto ataque à República Romana, que evitava as pretensões à realeza. Ou seja, foi um revide sofisticado.

Por mais que os senadores romanos desprezassem os ares reais, eles vinham de famílias privilegiadas e aprenderam com os mais velhos a navegar no campo minado de insultos políticos de forma, digamos, mais inteligente. "Eles aprenderam como fazer o trabalho por observação e imitação. Então, se eles testemunhassem uma dura discussão com insultos entre os senadores, também aprenderiam como fazer e suporta isso."

Insultar na Roma Antiga era uma tática para minar os oponentes e influenciar os seguidores, a partir de "xingamentos" baseados em observação e imitação

Ao longo do tempo, parece que desaprendemos um pouco isso tudo. Atualmente, Democratas e Republicanos gostam de ser referir uns aos outros como anões da Branca de Neve — “mentiroso”, “folgado”, “preguiçoso”, “traidor”, entre outros apelidos carinhosos. O presidente Donald Trump é campeão no baixo calão: já chamou o líder norte-coreano Kim Jon-un de “Pequeno Homem do Foguete” (uma alusão à canção do Elton John) e já ridicularizou a senadora Elizabeth Warren, chamando-a de “Pocahontas” e “Pateta”.

E nem vamos entrar aqui no cenário nacional, já que a ideia não é trazer à tona xingamentos de quinta categoria.

Xingar faz parte de nossa natureza

Mas não eram somente os políticos que gostavam que gastar o verbo com impropérios. O próprio povo gostava de tirar uma onda sobre seus governantes  — o que, diga-se de passagem, também não mudou muito. O estudo exemplifica isso com o registro de uma peça teatral que aconteceu em 59 a.C., quando o político e general Gnaeus Pompeius Magnos, também conhecido como Pompeu, compareceu a uma encenação em homenagem ao deus Apollo.

Quando um ator disse em um de seus diálogos “pela nossa miséria, você é ótimo”, todos da platéia caíram na gargalhada olhando para Pompeu, enquanto insistiam para que a frase fosse repetida novamente pelo elenco. O historiador Cicero disse que o rapaz teve que reprisar a cena nada menos do que 1 mil vezes.

“Isso é um exagero, é claro. Mas Pompeu teve que se sentar lá em meio a todos e sofrer enquanto as pessoas riam dele. O evento todo foi bastante ofensivo à sua figura e ele não pôde fazer nada contra isso”, destaca o pesquisador. “Nosso grupo de pesquisa em Dresden concluiu que usamos a inventividade como um termo artificial complexo para insultar, abusar, difamar, discriminar e assim por diante; e que isso é uma característica universal nas sociedades humanas.”

pompeu

Ou seja, xingar faz parte da gente faz muito tempo. Mas, ainda que isso seja algo que não possamos escapar, sempre temos a chance de estabelecer, como indivíduos e comunidade, alguns limites. “Podemos até não sermos capazes de fugir do impulso de insultar, porém, os humanos ainda são capazes de criar e estabelecer limites, confrontando e evocando comportamentos inaceitáveis, não importa o quão alta seja sua posição”, sugere Jehne.

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