O universo vanguardista de Yves Saint Laurent

01/08/2012 às 14:316 min de leitura

Laurent posa em 1971 para o fotógrafo Jeanloup Sieff - Fonte: Divulgação/Jeanloup Sieff

Hoje, dia primeiro de agosto, é aniversário de um dos maiores gênios da moda: Yves Saint Laurent, que faleceu em 2008, deixando um legado de estilo para todas as gerações de fashionistas.

Considerado um dos maiores e mais respeitados designers de moda, Saint Laurent criou coleções vanguardistas e provocativas que o mundo fashion jamais irá esquecer. Uma das mais importantes é a Rive Gauche, que possui o mesmo nome de sua primeira loja, inaugurada em 1966 na rue de Tournon.

A coleção inovadora causou polêmica na época, pois, além de unir o street sytle com a alta costura, algumas peças, como o smoking feminino, revoltaram os parisienses mais conservadores.

Além disso, era uma linha de roupas mais acessível às mulheres daqueles anos conturbados, em que a luta pela liberdade, direitos e até a forma de vestir agitavam as ruas de Paris. St Laurent via nessa coleção uma forma de revolucionar e acompanhar as ideias femininas da época.

De acordo com Annelise Castelli, Professora do Curso de Design de Moda da Universidade Positivo e Consultora do Senai + Design PR, Yves Saint Laurent participou de modo ativo no processo de evolução do comportamento feminino entre os anos 60 e 80, propondo coleções sofisticadas que refletiam sempre o espírito daquele tempo.

Annelise Castelli comenta que a arte era uma grande inspiração para Saint Laurent, quer era um ávido colecionador de obras modernas e contemporâneas, inserindo essa paixão em diversas coleções. “Além das artes, suas grandes inspirações vieram da África, Rússia e do universo masculino reproposto para o feminino”, afirma a professora.

Jovem visionário

Nascido na cidade de Oran, na Argélia, em primeiro de agosto de 1936, Yves Henri Donat Mathieu-Saint Laurent cresceu em uma casa na região mediterrânea com a sua mãe e duas irmãs. Cercado pelo universo feminino, o interesse por moda nasceu cedo e, ainda criança, Yves gostava de criar bonecas de papel com detalhes complexos.

Fonte: Divulgação/Fundação Pierre Bergé- Yves Saint Laurent

Na sua adolescência, St Laurent desenhava vestidos para a sua mãe e irmãs, demonstrando já o seu talento nato para a moda. Com 18 anos, o estilista se mudou para Paris e matriculou-se na Chambre Syndicale de la Couture, onde seus trabalhos rapidamente ganharam destaque e atenção do mercado de confecção.

Foi nessa época que Yves Saint Laurent deu o passo que mudaria a sua vida. Ele foi apresentado para Christian Dior por Michel de Brunhoff, o editor da Vogue francesa. Em 1953, Saint Laurent participou de um concurso de moda com três croquis e ganhou o primeiro lugar. O prêmio gerou ainda mais atenção por parte de Dior, que o contratou logo depois.

O seu começo na Dior, porém, não foi dos mais glamourosos. Saint Laurent passou o seu primeiro ano na maison realizando tarefas simples, decorando o estúdio e desenhando acessórios. Eventualmente, entretanto, Saint Laurent era autorizado a apresentar croquis para as coleções de alta-costura. Assim, a cada temporada, mais modelagens suas eram aceitas por Dior.

Em 1957, com apenas 21 anos, Laurent foi o escolhido por Dior para sucedê-lo no comando da maison. O estilista ficou feliz, porém surpreso, com a decisão. Afinal, Christian tinha apenas 52 anos de idade e, aparentemente, muitos anos de vida e de trabalho pela frente. Entretanto, foi nesse mesmo ano que o dono da marca faleceu de um ataque cardíaco fulminante em um hotel no norte da Itália, deixando a liderança da Dior ao jovem Yves.

Comando na Dior

Assim que assumiu a maison Dior, Laurent trabalhou incessantemente na coleção de primavera que seria lançada no início de 1958. Felizmente, tudo correu bem e a coleção foi um sucesso, salvando a empresa de uma possível falência. As novidades lançadas nessa temporada pelo estilista traziam linhas retas, com peças inspiradas no New Look de Dior, sendo que um dos destaques foi o vestido “trapézio”.

Porém, a sua coleção de outono, que veio a seguir, não foi tão bem recebida pelo público e pela imprensa. Assim como os outros lançamentos, que incluíam o estilo beatnik, que também foram atacados pelos críticos.

Fonte: Divulgação/Fundação Pierre Bergé- Yves Saint Laurent

Em 1960, Saint Laurent se viu numa situação inesperada ao ser convocado para servir no exército francês durante a Guerra de Independência da Argélia. Quando completou 20 dias de serviço, o estilista foi vítima de um trote violento por parte de outros soldados e precisou de cuidados médicos no hospital militar, onde recebeu a notícia de que havia sido demitido da maison Dior por Marcel Boussac, o dono da marca.

A notícia revoltou Laurent, causando um stress tão grande que precisou permanecer no hospital, onde recebeu grandes doses de sedativos e outras drogas psicoativas e submetido a terapia de eletrochoque. Fatores que, mais tarde, ele culpou por causarem os seus problemas psicológicos e vício em drogas.

O nascimento e ascensão da maison YSL

Depois de sua saída do hospital, em novembro de 1960, Saint Laurent processou Dior por quebra de contrato e ganhou a causa. Após um período de convalescença, ele e seu sócio, o industrial Pierre Bergé, lançaram a marca própria com recursos do milionário norte-americano J. Mack Robinson, que era um investidor de vários segmentos e também estava de olho no promissor mercado da moda.

Foi oficialmente no dia 4 de dezembro de 1961, que Yves Saint Laurent abriu o seu primeiro ateliê, que era localizado na Rue Spontini, em Paris. Em janeiro de 1962 lançou a primeira coleção de Alta-Costura da sua grife, que foi o ponto de partida para um êxito total nas outras que se seguiram. Em 1964, lança a sua primeira fragrância feminina chamada “Y”.

Saint Laurent era provocativo e usava o seu talento a favor da emancipação feminina através de suas roupas. Fato que causava polêmica entre o público conservador da época, mas era de grande deleite para o mundo da moda e para as mulheres modernas, claro.

Fonte: Divulgação/Fundação Pierre Bergé- Yves Saint Laurent

A professora de moda Annelise Castelli comenta que foi em 1965 que Laurent lançou a coleção que foi considerada a sua obra-prima, a Mondrian, que conjugou a estética da arte moderna com o espírito de praticidade e juventude do período.

A marca YSL popularizou tendências inovadoras em suas coleções, como o look beatnik, jaquetas safári, peças étnicas, terninhos, calças ajustadas, botas de cano longo e a peça que virou ícone da marca: o smoking para mulheres (“Le Smoking”), que foi lançado em 1966.

Foi também em 1966 que Laurent abriu a sua primeira boutique prêt-à-porter, a YSL Rive Gauche na Rue de Tournon, no bairro parisiense de Saint-Germain-des-Près. A inauguração da loja foi um dos acontecimentos mais importantes da grife francesa, sendo que o estilista recebia clientes famosas do mundo do entretenimento, como a atriz Catherine Deneuve, que foi amiga próxima de Laurent até a sua morte em 2008.

Em janeiro de 1967, Laurent leva o seu “Le Smoking” como peça central de seu desfile de primavera, apresentando as suas modelos com visual de estilo gângster, vestindo, além do terno, camisas, gravatas e chapéus fedora. Na coleção de inverno, apresentada em julho de 1967, o estilista fez uma homenagem a Coco Chanel, com vestidos pretos e detalhes de camélias, sendo aprovado por ela.

Em 1968, o estilista apresentou uma coleção de alta-costura que misturou estilos diferentes, incluindo casacos safari, jumpsuits e um vestido de seda pura e chiffon preto, que deixava os seios da modelo visíveis. Em julho do mesmo ano, Laurent prestou uma homenagem aos estudantes de Paris, que se revoltaram contra a polícia, apresentando duffel coats (um trench de estilo marinheiro) e botas com franjas. Ambas as coleções foram alvos de críticas da imprensa.

Vestido Mondrian exposto na mostra “YSL: a Retrospectiva”
Fonte: Divulgação/Museu de Artes de Denver

Ainda em 1968, a marca atravessa fronteiras e uma boutique Yves Saint Laurent Rive Gauche é inaugurada na Madison Avenue, em Nova York, para uma multidão de paparazzi e clientes. Em 1969 é a vez de Londres ganhar a primeira loja da marca.

Os loucos anos 70

No final dos anos 60, Laurent compra uma casa em Marrakech com seu sócio e parceiro Pierre Bergé e começa a passar grandes períodos por lá entre um lançamento de coleção e outro, tendo a companhia de seus amigos da sociedade e roqueiros como Mick Jagger.

Em 1971, Laurent lançou uma coleção de primavera que gerou grande polêmica. Inspirada originalmente pela moda dos anos 40, a linha foi apontada como uma romantização da ocupação alemã na França durante a Segunda Guerra Mundial. O jornal francês “France Soir” chamou a coleção "Uma grande farsa". Saint Laurent abertamente rebateu as críticas dizendo que eles eram "reacionários e pessoas mesquinhas paralisadas por tabus".

Com a atriz Catherine Deneuve no Studio 54 - Fonte: Reprodução/The Style King

Porém, o ocorrido com a coleção não tirou o brilho de Laurent, que continuou bem-sucedido nas coleções seguintes e entre as suas clientes famosas. Nessa década, porém, Laurent se jogou na vida social, sendo visto frequentemente em clubes da França e Nova York, como Regine e Studio 54, e era conhecido por abusar do álcool e ser um usuário crônico de cocaína.

Mesmo com a vida agitada, o estilista continuou seu trabalho frenético com quatro coleções ao ano, ganhando mais com a sua linha de prêt-à-porter do que as coleções de alta-costura. No entanto, o ritmo profissional de Saint Laurent, cuja saúde estava precária há anos, tornou-se difícil de ser cumprido por ele, que recorreu cada vez mais às drogas e à bebida, sendo internado diversas vezes para reabilitação.

Em 1977, apresenta a coleção “China”, que foi inspirada na cultura do país no século 18. É também neste mesmo ano que Laurent lança seu novo perfume chamado “Opium” com uma campanha clicada pelo fotógrafo Helmut Newton e estrelada pela modelo Jerry Hall (ex-esposa de Mick Jagger). O slogan da campanha era “Opium, para aqueles que são viciados em Yves Saint Laurent.” Obviamente, a imprensa e o público conservador se indignaram, acusando Laurent de fazer apologia às drogas. No entanto, as vendas da fragrância foram astronômicas.

A marca dos anos 80 aos dias atuais

Em 1983, Saint Laurent se tornou o primeiro designer de moda vivo a ser honrado pelo Metropolitan Museum of Art de Nova York, com uma exposição individual, comemorando os 25 anos da marca. Neste mesmo ano, a marca lançou o perfume "Paris", que foi mais um sucesso de vendas.

Em 1985, foi condecorado pelo então presidente francês François Miterrand com a legião de honra e ganhou o Oscar da Moda. Em 1986, teve uma exposição de suas criações no Louvre, em Paris, sendo a primeira vez que um estilista apresentava os seus trabalhos no museu.

Em 1998, o estilista ganhou um desfile-retrospectiva em pleno campo de futebol, antes da final da Copa do Mundo da França. Além disso, o guarda-roupa da equipe francesa na Copa foi assinado por ele. Sim, do time comandado por Zinedine Zidane, que liquidiou o Brasil na final.

Em 1999, a marca foi comprada por valores que teriam chegado a 1 bilhão de dólares, pelo empresário francês François Pinault, do grupo que detém a grife italiana Gucci. Dessa forma, com a demissão de Alber Elbaz (que assinava a linha prêt-à-porter) em outubro de 2000, a coleção Rive Gauche passou a ser criada pelo estilista Tom Ford, também designer da Gucci na época.

Assim, Laurent foi deixando aos poucos as suas funções na maison quando, no dia 7 de janeiro de 2002, ele convocou uma coletiva de imprensa e anunciou que estava se despedindo do mundo da moda. "Escolhi dizer hoje adeus a esta profissão que eu tanto amei”, disse ele.

Última coleção assinada por Stefano Pilati - Fonte: Getty Images

No dia 22 de janeiro do mesmo ano, em Paris, aconteceu o último desfile de alta-costura do designer, sendo uma grande retrospectiva das suas criações. A partir daí, ele se aposentou e tornou-se cada vez mais recluso, vivendo em suas casas na Normandia e em Marrocos. Em 2007, ele foi premiado com a classificação de Grand Officier de la Légion d'honneur pelo Presidente francês, Nicolas Sarkozy. E, no dia primeiro de junho de 2008, Yves Saint Laurent falece em sua residência em Paris.

A marca continuou suas criações e desfiles pelas mãos do italiano Stefano Pilati, que deixou o cargo neste ano de 2012 e foi substituído por Hedi Slimane, ex-estilista principal de roupas masculinas da Dior, que alterou o nome da Maison para Saint Laurent Paris.

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